sexta-feira, janeiro 28

poltronas de pedra

Ajeita os pêlos da sobrancelha com a ponta de borracha do lápis que escreve.
Entre goles de vinho, água e letras, segue gastando o tempo acordada, porque dormira demais naquela noite e ainda tem sono.
São diversas alternativas e a imensidão se baseia nisso.
Na diversidade impossível de ser definida em uma só.
Não sabe aonde vai muito menos o que dizer.
Dar uma fugidinha não faz mal.
A distância ajuda no clarear dos pensamentos.
No saber dizer sobre os sentimentos.
Talvez viajar.
Ou simplesmente repor o sono perdido.
Babar por sete dias.

Essa imensidão e o que fazer com ela.

quinta-feira, janeiro 20

andarilhos

puxa pelo braço e leva para a sala de piso convidativo. Rodin na mão e alma no coração. Sopra tinta na minha orelha e tudo ficará bem. A sua palavra é 'serelepe' (semoladoinfantil), embora adoraria, aposto, que fosse 'excêntrico'
estão todos aqui mas tão dentro de si que já não sei. Parece que estou só na sala. Mas eu também dentro de mim. Ai de mim flutuar
como sempre, andando para lá e para cá. Quase nunca cá, um pouco (sempre) mais para lá. Percebo presença quando me falta ar. O individualismo nutre meu egoísmo como uma desculpa, como se dissesse qual o problema?
Beethoven é o problema.

de manhã, passando os dedos pelos contornos do rosto

e quando (finalmenteporémcontraodesejo) fui embora, meus olhos reclamaram por não ter mais você em minha frente. ficaram vermelhos implorando por mais.
gosto de você porque me vejo refletida em seus olhos
e não há mal nenhum nisso

domingo, janeiro 9

entre por favor

as cores perdem o nome
tudo é maleável
(menos eu)
inclusive        sempre

andanças no mato com
cheiro de infância
cavalo vermelho relincha e
risos altos e confortáveis dão
vontade de abraçar

como se abraça um sorriso?
acho que só dando outro

deitada com papel picado
gosma rosa na mão
a saliva acaba
todas as palavras estão
sendo usadas

não sei o seu cheiro e não
consigo nem te beijar porque
temos muito a dizer

não resisto aos finos pulsos
dedos de músico
pintas do rosto ao pescoço
parece que foi ontem

sobre oito rodas

já na porta
um aviso de não entre:
"não fume
fé em Deus"

entrei mesmo assim
mesmo que mofasse na
companhia das árvores dentro do
saco de dormir

a mulher ao lado sorrindo o tempo
inteiro não sem oferecer mentos
(oproblemaéquetodaseramrosase
minhaprediletaéaamarela)

calamares em gangorras










o mar foi dormir
o mar não dorme
disse Zilá

Zilá
que tem nome de flor
não fala
exala

me ensina desse mar que
eu te ensino três acordes

Zilá e o cavalo
se aproximam e
pergunta se ele quer dar
uma volta
afagam os cabelos compridos um do outro

sua árvore suplica
as lágrimas grudam no chão
fico colada embaixo
um ritual obrigatório

domingo, janeiro 2

em cada (a)braço

parecei que foi ontem eu
dei adeus até logo ao barulho da
máquina
agora meu negócio é com o
vento
o charme endiabrado da
natureza me faz sentir em
casa
Era a época das borboletas amarelas e qualquer música que eu começasse a cantar você sorria e fazia sons engraçados para eu nunca sair do ritmo, o problema é que eu perdia o tom. Elas pousavam em nossos ombros sem pedir permissão, o susto inicial logo se transformava em leveza. A grama alta engolia nossos (feios) dedos dos pés (só os feios). As formigas desviavam das nossas pintas até chegarem ao pescoço (só para 'sentir' o cheiro) Eu dizia céu, você, horizonte. Os helicópteros, pássaros. Sol com vento fresco é melhor do que arco-íris.