A mãe amarra um lenço amarelo em volta dos olhos da criança.
- Vamos brincar de cabra cega. – diz ela.
As duas saem de casa e descem, calmamente, seu caminho. Há pessoas em volta, o chão está molhado. A criança sente que está pisando em algo líquido e tenta tirar a venda. A mãe a impede.
- Mãe, não quero mais brincar. Não quero mais.
- Não minha filha, a gente ainda está brincando...
- Mas não quero mais.
A mãe deixa o laço mais apertado. A leoa segura sua cria com mãos fortes, respiração pesada, carregando o peso da visão no coração. Ela anda mais rápido, e a criança corre para conseguir acompanhá-la. Ela ouve pessoas em volta chorando, outras gritando. Ela também segura um choro. Não chora, pois sabe que a mãe brigaria com ela. Ela continua a sentir algo líquido, viscoso e quente em seus sapatos brancos. Vontade de tirar a venda. Ver o que se encontra em volta dela. Por que elas estavam brincando daquilo?
Quando sente que pararam de descer, ela se acalma. A mãe abaixa, lhe dá um abraço e retira sua venda. A luz do sol cega seus olhos, e com uma careta pergunta à mãe quem havia ganho a brincadeira.
- Você, é claro.
Sorri. Olha para seus sapatinhos brancos e percebe que eles mudaram de cor. Naquele dia, seus sapatos seriam vermelhos.
sábado, fevereiro 14
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Macabro.
Ironicamente, não tão diferente de algumas faces da vida.
Onde estah a saudável ironia do sr. D. Corações?
Talvez eu soh seja um nostálgico...
Eu nunca fui irônico.
(Ah. Olha ela aí.)
lindo.
Obrigado.
Postar um comentário