sábado, outubro 30

onde as palavras têm sabor

por mais suportável
ou por vezes agradável
a repetição que vem
amarrada ao pé da rotina
é acídia que me calça
como meias
continuo amando
,sem perder a fé,
a vida

porém, a capacidade de
investimento se torna ousadia

o jeito é me amarrar à jangada
mutilar o calcanhar e
dá-lo de isca aos peixes

cidade de gengibre

vivemos cercados de sofismas
insociável sociabilidade
você (m)ata cristo
mas não mata o cristianismo
fico com a pergunta sem resposta de
antoine: terá ou
não terá o carneiro
comido a flor?

sábado, outubro 23

mancha laranja na calça

Foi dormir do jeito (cor) que estava. Toda suja de giz. As mãos na parede formavam galhos. A sombra azul no olho direito. O bigode de mesma cor que já apagara com os dedos. Por baixo das unhas, pó colorido. Não gostava da sensação de arranhar o giz enquanto reproduzia sua mão. O homem aranha do band aind, laranja.

maio de 1998

já não penso
sinto o peso da claridade
(da verdade)
mergulhando o dedo em temperos anarquistas
estamos todos desinstrumentados
enfim

domingo, outubro 10

encaixes e contrastes

    As duas se consideravam desistentes. Largaram os diferentes esportes (algo do tipo) em dias consecutivos e se afundaram em suas ocupa;ões. Se encontravam por ali e por aqui, mas nada muito longo. A Maisvelha sempre de costas, luz branca em seu rosto. A Maisnova se despia, deitada na cama, enquanto esperava o fim de outra longa liga;ão. A Maisvelha queria usar short e, por isso, tomara a decisão de ir ao salãono dia seguinte. A Maisnova perdera seu caderninho (malditooqueachoumeuspensamentos) e chorava nervosa pelos cantos, fuma;a constante que gostava de soltar pelo nariz, seguia na tentativa de decorar aniversários.
    A Maisnova cansara de brincar com barbies, ursos de pelúcia e gnomos de plástico. Cansara de os obrigar a fazer sexo entre si. Não queria obrigar nada a ninguém. As lembran;as eram sapatos roubados por amigas do colégio. Aquele verde, nunca mais achou o mesmo tom de verde. Até pintá-lo em suas unhas. Que mania de comer borracha. Seguia na esperan;a de encontrar um novo piso.
    A Maisvelha não tinha amigos, grudava na Maisnova e como uma senhora rock`n`roll reproduzia seus pensamentos e sentimentos sustentada pelo que lera no jornal mais cedo. Sempre dependente da Maisnova, a pedia que enrolasse enquanto gritava o quanto a Maisnova era dependente sua.
    Um dia a Maisvelha chegou e disse que se matriculara na hidro. A Maisnova sentiu a agulha nas costas mas nada fez. Ela queria uma bicicleta, magra e cesta, podendo sentir o vento e música, com foto e memória. Nada melhor do que anota;ões para lembrar, fotos são secundárias. Obviamente chegaram a essa conclusão juntas.
    O problema é que de quando em vez a Maisnova queria ficar só. A Maisvelha entendia como aborrecimento e saía de perto. Não entendia que qualquer ruído importunava e a deixava enojada.
    Os problemas eram sempre resolvidos. Elas gostavam de falar e tentavam não deixar nada de fora (difícilsempredifícil), uma concordava com outra ou ao contrário e assim, discordando e concordando, gerando discórdia e concórdia.

massinha verde de nome erótico

o ardor come;a no céu da boca, passa para o nariz, e então vêm as lágrimas.
gosto tanto do seu gosto. ou será que é da cor? queria encher toda a minha boca, só para saber como é te morder, mas perderia meus olhos e provavelmente o paladar. nada que um bom copo d'agua não resolvesse.

*árvores, aviões, sabão, vidro, vinho, contrabaixos, sebo e soda cáustica

porque quando diz que
está voltando com a ex
penso em sair do celibato
única conclusão que chego
é que o difícil me é excitante

poderia dar cinco motivos
mas dou três
o segundo é por quem você é
o que chega a ser chato por ser óbvio por você já ter ouvido antes
o terceiro
e provavelmente mais importante
foi que encontrei o Coutinho
(nocinemanocinema)

sábado, outubro 2

entrando na floresta arranhando com galhos as pontas dos dedos

quão anárquio é ir
rumo à tempestade?
o homem de dentes tortos
inquieto pelo som do lápis no papel

triste chuva não ter som
depende do contato para se mostrar presente
e quem não?
sou mais ter cheiro
que só depende de um nariz