Fumava meu segundo cigarro de caderno aberto, caneta na mão. O que escrever sobre isso tudo? Olhei páginas antigas e me deparei com uma fala de um filme: "Perspective is what shuts out the universe. Everyone with their little perspective. It keeps the love out." Foi como um estalo, uma epifania. Entendi, de uma só vez, que estava criando mais história aonde já tinha uma grande, dolorosa, bonita e satisfatória. Analisei meus últimos curtos relacionamentos e percebi que com o último ocorrera o mesmo: me precipitei e acabou dando tudo errado. Mexi aonde não era para mexer. Por que tentar melhorar o que já está bom? Por que sempre mais, mais, mais e mais? Vi que seria mais feliz se não segurasse meus desejos e simplesmente continuasse o que antes era tão bom.
Tirei meu celular da bolsa. Eram 15:10. O filme começava às 15:40.
Digitei: Cara, VIAJEI. Consegue chegar no Estação em meia hora?
Passaram 10 minutos. Ok, pensei, ele pode nem ter visto a mensagem. Sentei num banco dentro do cinema e abri meu livro quando o telefone.
- Oi, é....eu acho que você me mandou uma mensagem errada.
Ri.
- Não foi errada.
Silêncio curto.
- Então tenho 20 minutos? Compra meu ingresso.
Comprei. Voltei pro banco, abri o livro. Já estava na hora. Relaxei mesmo com meu nervosismo de não perder as luzes se apagando. Estava concentrada nas últimas linhas do capítulo quando sentou ao meu lado. Dei uma olhada rápida, com medo do que meus olhos podiam dizer. Ele olhava para frente. Calça listrada dobrada, sandálias de couro, blusa branca.
- Vamos? - marquei a página com o marcador que ele me dera de presente. Percebi nesse momento que seus lábios formaram um sorriso. Deduzi ser pelo marcador, mas não tinha certeza.
Dei os ingressos à mulher da porta. Corri para pegá-los de volta antes que ele pudesse ver qual o filme.
Sentamos. Eu na poltrona 3, como sempre. Ele na 4.
Os trailers nacionais denunciavam um filme brasileiro. Não sei se ele sacou antes ou só quando começou. Pude perceber um fraco sorriso se abrindo quando o título apareceu.
Não nos tocamos em nenhum momento.
Esperamos os créditos acabarem e fomos para o bar mais próximo.
Falei. Falei. Falei.
Ele parecia desconfortável. Ainda não sei se acreditou no que eu disse, se entendeu.
Fome. Fomos para outro bar, comeu dois sanduíches e bebemos umas três. Andou como um chimpanzé de mãos dadas comigo em volta do bar. Não fiz a dancinha da garrafa. Jogo terminou, perdi.
Senti que começávamos a nos soltar. Quando fui ao banheiro, me deu um beijo na bochecha.
Fomos para outro bar, uma cerveja.
Ideia incrível de andar de bicicleta. Não andava desde meus 9 anos. E como com tudo em minha vida, já tinha esquecido como me equilibrar.
Ele me ajudou e deu nota 7 ou 8, não importa. Tomamos mais cerveja deitados na ciclovia da Lagoa, olhando a lua que começava a ficar cheia, crateras visíveis, poucas estrelas.
Guardamos as bicicletas.
Como um bom classic feeder, me alimentou.
Fui para casa.
Só quero saber se ainda se sente à vontade de me mostrar seus olhos apaixonados.
segunda-feira, abril 26
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2 comentários:
irado
titulo maravilhoso!
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