Ela era dessas que andava. Andava na vida porque era solta. A vida, não ela. Andava porque gostava de sentir o vento bagunçando seus cabelos bagunçados. Andava porque sentia o lenço amarrado em sua enorme bolsa (sempre enorme, porque sempre enorme?) acariciar suas pernas. Andava porque não era domingo. Andava porque tinha sol. Ela era dessas que só olhava para o céu. Sempre para o céu. Não gostava quando aviões ou helicópteros passavam, atrapalhavam as nuvens. Não se importava com o dia da semana, nem com o que iria comer de almoço no dia seguinte. Não se importava com nada. Não se importava. Ela era dessas que só usava short ou saia, sentia muito calor sempre muito calor. Blusas sempre coloridas, cordões budistas e tênis de longos cadarços. Pensava nos pintores que conhecia para definir o céu de cada dia. Os braços, como o lenço, dançavam de acordo com a orquestra do vento. Ela era destra até que ele.
Parados lado a lado em frente ao cinema. Olhavam o mesmo cartaz. Nada ao lado. Nada atrás. Como uma garça, ela apoiava o pé na perna. Como meio sem jeito como era seu jeito continuava com a mão no bolso. Ele a notou primeiro, com sua mania de sempre olhar as pessoas sempre. Ela o notou segundo, tentando adivinhar que espécie de helicóptero era aquele.
Talvez fosse domingo, afinal.
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