sexta-feira, dezembro 18

pluma, tela, pétala

diz que cheiro a doce
pois você cheira à maresia
só que menos salgada

sua pele morena
lisa
toda menininha
indefesa
tentando aparentar força
tenta

seu riso tímido
a entrega
o medo de pisar em falso
(que tanto se parece com o meu)
se confunde entre os hematomas
de outros tempos

como pode você querer ser
logo ao meu lado?

gosto de mastigar seu sorriso
e
com um escancarado
me entrego
achando sempre
tudo muito engraçado

quarta-feira, dezembro 16

grama recém cortada

o cheiro inconfundível de jaca que
paira no ar
sozinha, contemplo
onde estará a aranha
que teceu
esta grande
teia?
sua semente é tão
frágil que
explode com um
tímido toque
pega vareta com
os troncos
velhos amontoados
esqueceram de
avisar
sumiram com a placa
que quem perde o jogo
no pântano afunda

pois vou me dependurar num
desses cipós
e ver qual é a de ser livre

o grande poder transformador

"oh, amor, ai
amor bobagem que a gente não explica, ai ai
prova um bocadinho, ô
fica envenenado, ê
e pro resto da vida é um tal de sofrer
ôlará, ôlerê"

sentado na verde poltrona da sala

a velhice te seca
esquecido no sol,
congela
parece
(só parece)
que acabou de sair de um campo
de concentração

terça-feira, dezembro 1

"sabia que tudo o que se fala fica para sempre no mundo?"

olha para mim e sorri,
assim
como você faz

quem sai ai ai de mim?
sempre que me desdobro de ti.

cheiro chuva

tá ficando cinza
rápido
rápido demais
nuvens dançando
rápido
no ritmo da salsita
cubanos e norte americanos
juntos
a bailar
e os pingos começam
a cair

(só espero que meu copo não caia na
cabeça de ninguém)