sexta-feira, abril 30

debaixo do arco íris que coleciona chuva

abriu a porta com a Madame Bovary embaixo do braço. sua constelação de pintas à mostra com o casaco semi aberto. um sorriso. um beijo. depois de dedilhar olhou pra mim. lá em cima tudo ok. parecia tudo bem. mas foi rápido demais. estava tão distante...
- então, esse...ou esse?- apontei para os dois dvds, me enrolando no lençol.
escolheu.
- tá, mas só se você me agarrar durante o filme. - condicionei.
ele riu. Aceitei como um sim, qualquer um aceitaria como um sim.
a leoa recuperou sua cria e tudo está bem na selva (ainda enrolada no lençol).andando até a cobal.embaixo do guarda chuva colorido me deu um estalinho, nem estalo fez.
- então tchau.- se afastou.
(sinto lhe dizer, mocinho, faltou paixão nessa despedida e, sabe, eu PRECISO de paixão)

quarta-feira, abril 28

kit em mim

"O mesmo céu ardente e límpido que ela vislumbrava pela janela, de onde estava deitada, repetia/se dia após dia, como um mecanismo cujo funcionamento era totalmente independente dela, um poder que seguia seu curso, deixando/a abandonada. Um dia nublado, assim imaginava, lhe permitiria emparelhar/se novamente com o tempo. Mas quando olhava, só conseguia enxergar lá fora a mesma vasta e imaculada claridade, implacável sobre a cidade."

segunda-feira, abril 26

vou abrir seus olhos nem que tenha que arrancar cílio por cílio

Fumava meu segundo cigarro de caderno aberto, caneta na mão. O que escrever sobre isso tudo? Olhei páginas antigas e me deparei com uma fala de um filme: "Perspective is what shuts out the universe. Everyone with their little perspective. It keeps the love out." Foi como um estalo, uma epifania. Entendi, de uma só vez, que estava criando mais história aonde já tinha uma grande, dolorosa, bonita e satisfatória. Analisei meus últimos curtos relacionamentos e percebi que com o último ocorrera o mesmo: me precipitei e acabou dando tudo errado. Mexi aonde não era para mexer. Por que tentar melhorar o que já está bom? Por que sempre mais, mais, mais e mais? Vi que seria mais feliz se não segurasse meus desejos e simplesmente continuasse o que antes era tão bom.
Tirei meu celular da bolsa. Eram 15:10. O filme começava às 15:40.
Digitei: Cara, VIAJEI. Consegue chegar no Estação em meia hora?
Passaram 10 minutos. Ok, pensei, ele pode nem ter visto a mensagem. Sentei num banco dentro do cinema e abri meu livro quando o telefone.
- Oi, é....eu acho que você me mandou uma mensagem errada.
Ri.
- Não foi errada.
Silêncio curto.
- Então tenho 20 minutos? Compra meu ingresso.
Comprei. Voltei pro banco, abri o livro. Já estava na hora. Relaxei mesmo com meu nervosismo de não perder as luzes se apagando. Estava concentrada nas últimas linhas do capítulo quando sentou ao meu lado. Dei uma olhada rápida, com medo do que meus olhos podiam dizer. Ele olhava para frente. Calça listrada dobrada, sandálias de couro, blusa branca.
- Vamos? - marquei a página com o marcador que ele me dera de presente. Percebi nesse momento que seus lábios formaram um sorriso. Deduzi ser pelo marcador, mas não tinha certeza.
Dei os ingressos à mulher da porta. Corri para pegá-los de volta antes que ele pudesse ver qual o filme.
Sentamos. Eu na poltrona 3, como sempre. Ele na 4.
Os trailers nacionais denunciavam um filme brasileiro. Não sei se ele sacou antes ou só quando começou. Pude perceber um fraco sorriso se abrindo quando o título apareceu.
Não nos tocamos em nenhum momento.
Esperamos os créditos acabarem e fomos para o bar mais próximo.
Falei. Falei. Falei.
Ele parecia desconfortável. Ainda não sei se acreditou no que eu disse, se entendeu.
Fome. Fomos para outro bar, comeu dois sanduíches e bebemos umas três. Andou como um chimpanzé de mãos dadas comigo em volta do bar. Não fiz a dancinha da garrafa. Jogo terminou, perdi.
Senti que começávamos a nos soltar. Quando fui ao banheiro, me deu um beijo na bochecha.
Fomos para outro bar, uma cerveja.
Ideia incrível de andar de bicicleta. Não andava desde meus 9 anos. E como com tudo em minha vida, já tinha esquecido como me equilibrar.
Ele me ajudou e deu nota 7 ou 8, não importa. Tomamos mais cerveja deitados na ciclovia da Lagoa, olhando a lua que começava a ficar cheia, crateras visíveis, poucas estrelas.
Guardamos as bicicletas.
Como um bom classic feeder, me alimentou.
Fui para casa.

Só quero saber se ainda se sente à vontade de me mostrar seus olhos apaixonados.

* voltando de viagem

estava ouvindo devendra
quando você me achou

ah, adorei a barba

sábado, abril 24

silêncio afinado em si

há tristeza em meus olhos
meu coração bate em
minhas amígdalas
o café quente passa
destruíndo a falsa calma
que criei
sinto minhas lágrimas na perna

impassível
nenhuma caiu
até o barulho da grade do elevador
quando abri os olhos
tudo era embaçado
estava no chão congelante
da cozinha

o elevador caiu
(não pela última vez)

quarta-feira, abril 21

rapidinhas

"Ai, que lindo!", exclamou ela.
Olhou para mim com olhos alegres e disse: "Só coisa de doidona mesmo, ficar admirando o gelo".
Ri.
"Ai, vou pegar meus óculos", anunciou, "ver isso de óculos será o máximo".
Corri para anotar.
"Olha isso aqui!"
Olhei

Ascendi.

sexta-feira, abril 16

a poesia é a minha preguiça

aparência mutante
arrisca um blues
em cima do israelense

saber que alguma frase minha
marcou em sua mente
ah, nem parece
mas é!

tava na onda de que
era mais fácil rir
do que ficar normal

vai,
um traguinho é que nem um cafézinho!

vamos nos meter
por dentro de uma cama
enorme com montanhas
de lençóis desarrumados?

quinta-feira, abril 15

Rio, 27/02/2010

Remetente: Pluma e Pétala
Destinatário: Ervas Daninhas, 8cinco

Caros residentes da casa oitenta e cinco,
somos amigos de sua calçada. Debaixo dos ramos aconchegantes das suas videiras já encontramos abrigo, eu e ela, da chuva e das nossas próprias dores. Obrigado por conservarem o que dividimos, ainda que vocês não o saibam.
Enquanto as árvores se confundem com parede, nos confundimos em nós mesmos, eu e ele, dançando no infinito do 8 (a dois) ou chorando no solitário cinco (sozinha). Que mais flores e amores se multipliquem por entre os galhos e telhas, nunca deixem de tê/las.