quarta-feira, setembro 30

o homem da gravata não-florida

então jaé jacaré!
beleza calabreza!

ele me faz rimar graça com garça
som com coração
ele é tudo:
meu camaleão
meu veloso

olhei para a menina no espelho
não tenho inveja dela
não tenho inveja da fidelidade
o sol subindo por seus jeans
só tenho inveja dos orgasmos múltiplos

ú!

sábado, setembro 26

a pinta clara sobre o nariz marrom

você rosna
enquanto agarro sua
pata de encontro
ao meu nariz

sentirei seu cheiro ao
longo da semana

finge que não liga
mas se gaba toda por
ter música sobre ela

se enrosca na
cama desfeita
me olha e com
esses mesmos, diz:
- te amo

sorrio e fecho os olhos
faz o mesmo

esfregando a pele de ouro marrom
do seu corpo contra o meu
enquanto os pêlos dessa deusa
tremem ao vento ateu
ela me conta sem certeza
tudo o que viveu

sexta-feira, setembro 25

de noite na cama

meu grande amor tinha
uma árvore crescendo em
seu banheiro
ah, deixa lá
ele já tem a alma saturada
de poesia

eu
fico entrincheirada
num sórdido egoísmo
orgástico
a palavra passa
pulo no pescoço dela
e sussurro ao pé do ouvido:
- fala peluda!

as palavras nunca respondem
dizem sem emitir som
dom
bacana e sacal
sacana e banal
as palavras nadam no papel

mom and dad took a 'don't be sad' pill

e as joaninhas?
alguma coisa está acontecendo com as joaninhas

bons sonhos
um beijo,
eu.

sábado, setembro 12

East St. Louis Toodle-do

Esse cara me derrubou no chão e cuspiu em cima.
A mulher loira da pinta na cara sorri demonstrando borras de batom nos dentes.
O de terno e gravata fuma um charuto.
O bueiro solta o eco do saxofone.
O mendigo dança.
Ih, acho que o rapaz se ferrou!
Perdeu sua mulher, que chora em volta de seu corpo morto.
O sangue escorrendo pelo asfalto enquanto o cinema estreia M for Murder.
No bar, o negro sapateia.
Seu anel está prestes a sair, emagreceu coitado, sem jantar há um tempo.
A moça de vestido vermelho empurra os pés para trás.
Seu sorriso pin up é ensurdecedor.

por uma luísa fascinada por Duke Ellington.

sábado, setembro 5

"contra todos os importadores de consciência enlatada"

no cemitério
de nosso amor
as lápides
guardam os ecos

a semente
que eu planto
germina música

a polifonia política:
as reticências

e o nome disso
querido,

OBSESSÃO

o fim

queria que você lembrasse
sempre do meu rosto quando
nos vimos pela primeira vez

"deixa o coração
ter a mania de
insistir em ser feliz
se o amor é
o corte e a cicatriz
pra que tanto medo
se esse é o nosso jeito
de culpar o desejo

para ouvir basta
abrir os poros
para que adiar um desejo
de alguém que lhe quer tanto beijo

quem de vocês
resiste a uma tentação?"

não me torture
não me cure
de você
deixa o amanhã dizer

isso é tão certo
como o amém
no fim da oração

pensa no essencial:
dorme
e acorda