domingo, novembro 30

Resposta à Infância.

Era pura boemia
Naquele tempo tudo se fazia
Na escada,
Na cama,
Calada
Gritando


Moça da lapa
No dedo, uma farpa
O medo da verdade é maior do que a saudade


Indo e vindo,
Em busca de um coração amigo
Que compreenda e entenda
O meu coração ambíguo.

Sanitário Pessoal.

A fumaça atrapalhou meus olhos
Você provavelmente não podia ver, nem queria
Mas eu estava olhando diretamente pra você

Entrei e fui diretamente ao banheiro
Poesia pelas paredes descascando
Letras e sentimentos caindo aos pedaços
Se despedaçando e se suicidando a cada descarga

Voltando ao seu lado
Fingi ser canhota para encostar meu braço no teu
Fingi ser de limão para tomar do meu

A sonoridade das palavras doía à cabeça
As marcas no braço desapareciam
Mas sua mão pesava ao escrever
Cada letra, cada dor, cada amor

Mozart.

Ele estava lá
Mal me viu chegar
Dançava ao vento
No relento
Esquecido
Mas não ferido
Havia sido largado
E o vento o abraçava
Não como um fardo
Ele apenas dançava
Suas cores eram fortes
Mais do que a morte
Que poderia ser breve
Sendo leve
Como se ninguém importasse
Simplesmente deixado de lado
Um alguém que falasse
E não ficasse calado
Em fatídica situação
Eu pedia em vão
Para o sinal fechar
E que eu pudesse alcançar
Tão belo lenço
E em meus braços envolvê-lo
Como um zelo
De amor e carinho
Por um novo caminho
Vermelho
Corri ao seu encontro
Virou tesão
Obsessão
Não podia ignorar
Tal sentimento de excitação
Seria em vão
Brincar de não chorar
Precisava tê-lo
Nunca mais deixá-lo ao relento
Adotar e chamar de Mozart
Fingir que era música
O que na verdade era fuga
Fingir que era frio
O que na verdade era estilo
Sem feri-lo
Sem manchá-lo
Meu, precisava chamá-lo
De mais ninguém seria
Aquele lenço que já fora um dia
De outra pessoa
Que não foi boa
Com meu pequeno Mozart.

quarta-feira, novembro 26

curativo.

melhorei.
não sei se foi o chocolate ou a mudança de música.
sei que quando te vi, ali, entrando...meu cérebro pedindo para olhar para você, com aqueles olhos de preocupação. mas fui mais forte. na verdade não fiz força nenhuma. e isso jogou, espalhou, um sorriso em meu rosto. meus lábios inferiores mais do que carnudos tiveram que se espalhar e esbanjar para o mundo todo que eu já não ligava. parecia estar curada. mas ei, e o que é isso? já pensei estar anteriormente, mas foi preciso uma internação no hospital para me tocar de que a cura não realmente existe. só a sensação dela, o que já é suficiente.

é?

gosto de pensar que é.

ausente de mim mesma.

Estou me sentindo muito só agora.
Talvez por estar ouvindo Nouvelle Vague, talvez por não estar com você.
Nesse momento olho para trás e tenho boas lembranças.
O quão destrutivo isso é?
Espera, não estou falando de você.
Não mesmo.
Estou falando é do meu personagem ambíguo, que me deixou cheia de calafrios, que me enxe de sorrisos, e que me chama de (...), estou falando de outra pessoa, quase boa, quase amigo (um pouco mais do que isso), uma pessoa nova por aqui, provavelmente já apareceu entre uma vírgula e outra, mas não que me recorde.

Estou me sentindo muito só agora.
Eu diria até destrutiva. Não posso ficar sozinha no momento. Não seria recomendável. Cigarro.
Fumaça.
Tem alguém aí?




Tem alguém aí?

correção!

ei, não sou essa mulher desesperada que pareci ser em "obrigada, roteirista". vai ver no momento com bebidas e cigarros eu fui. mas não a sou.
foi só um agradecimento mesmo.

obrigada,
boa noite e boa sorte.
Foi como um filme. E dos meus prediletos..

obrigada, roteirista.

espero. espero. espero.
quanto tempo mais devo esperar?
pelo quê exatamente devo esperar?
devo esperar?
talvez não.
talvez eu nem tenha idéia e devo sim esperar.
será que a realidade vai me surpreender mais uma vez? até agora tem sido eficaz.
ao jogar o dado,
proporciono surpresas boas e ruins.
essa podia ser boa, essa que ainda nem existe, mas que está sendo tecida.

agradeço ao roteirista da minha vida, que a transformou em um filme de romances e lágrimas.

domingo, novembro 23

Inacabado.

Nem percebi,
Mas deixei meus pés pra fora da cortina
Bem na hora que tentava me esconder de você
E desses seus olhos que me cobrem de incertezas
Como uma felina, dei um pulo e procurei outra cor

Não achei uma tão rápido, não tão específica
Mas deu pro gasto
Desse fato, desse nosso relato
Que virou torto e demorado
Já não entendia, nem queria
Parecia fantasia

Achei que tinha falado, mas parece que não
Que foi sem chão essa vontade, essa irmandade
De rir de tanto chorar
E de chorar de tanto rir
Precisava cantar, mas rouquejava

Ainda não gostava, nem gostaria da amargura
Algo sem armadura, sem certeza
Sem dor nem amor
Sem alguém que entendesse meu coração ambíguo,
Que agora precisava de mais do que um amigo.

sábado, novembro 22

"não há distrações para a agonia"
"mentira"
"verdade"
"importa?"
a memória é algo que se tem ou que se perdeu?

?

Meu dedo sangra, acho que perdi um pouco de mim ontem. Só não sei em que parte do dia. Não sei onde encontrá-la (essa parte, que parte?que partiu de mim ontem.ah). Quero encontrá-la?

retina.

É bom ser a espectadora. Simplesmente observar e conhecer a pessoa por cada gesto que ela faz.

Todos estávamos ali reunidos por um mesmo motivo. A comida (agradeço ao homem que dilacerou meu coração, porém me ensinou a importância da gastronomia japonesa). Todos educadamente aguardando o momento de literalmente atacar os sushis belamente enfeitados. Seus pés batendo impacientemente, suas mãos nervosas provocando música em suas pernas compulsivamente, seus olhos lutando contra quem piscaria primeiro, quem tomaria a atitude? Eu, que permanecia quieta, empoleirada no sofá observando o quanto era dito mesmo com a ausência de palavras, levantei, peguei um prato e me servi.

qual andar?

Me senti como a Ruth, de Cidade dos Sonhos, adentrando em uma casa desconhecida em busca de abrigo, tentando encontrar meu verdadeiro eu, descobrir quem eu realmente era. Mas a casa era conhecida. Já estivera lá muitas vezes antes. Ainda assim... estranha sensação de novidade, um frescor diferente. Será que eu mudara tanto desde a última vez que estivera lá? O cheiro era tão diferente... os móveis em seus devidos lugares, a cama desarrumada também não era surpresa. O cheiro que me chamou a atenção. Quem afinal havia mudado ali? As pessoas que habitavam o apartamento ou eu?

quarta-feira, novembro 19

evaporar.

vou sumir, sumir de vez
evaporar
cansei de vocês
cansei de mim
mas a coragem é pouca e não posso num suspiro me matar
nem quero
covarde?
não, apenas feliz
sou uma boba feliz que quer seguir a vida
mesmo sem a ida e vinda
vida breve, eu espero
viver nunca foi minha meta
medo?
nem um pouco
quero uma vida sem repertório breve
com sol e dó
sempre lá e fá-
lta de ti
si, yo lo tengo
queria só uma ré
prise, qual o problema?
call mi
lta de ti
lta de ti
fá.
ser poeta é para todos. mas ser todos não é para qualquer poeta.

segunda-feira, novembro 17

Para ler ouvindo I Melt With You, de Nouvelle Vague.

Clara estava certa. O céu amarelo e Clara estava certa. Deitada em suas almofadas de cetim, passava delicadamente a mão em seu leque cor de rosa. Seus laços desfeitos, seu amor longe. Clara decidiu esperar. Clara decidiu abrir suas delicadas pernas e agora tinha que esperar. 9 meses.

(se você leu não ouvindo a música dita no título, você não realmente leu).

Para ler ouvindo Toxicity, de String Quartet.

Clara olhava o relógio. As horas passavam, passavam sem se importar com ela. Ela pensava o que fazia ali sentada? Que importância tinha aquele homem para ela? Quem era ele? Só porque seu chapéu era uma cartola? Só porque ele era alto, moreno de cabelos compridos, e usava um terno de linho azul claro impecável? Cetim. Clara desejava dançar. Um passo, depois o outro, depois o outro, depois o outro, depois o pulo, depois o choro, depois o outro. Olhava para seus ombros, seus belos ombros. Admirava suas pintas, elas eram localizadas em pontos específicos, a deixava perfeita. Uma dançarina sem sua sapatilha. Sem sua sina. Sem sua alma. O médico é avistado, ele anda rápido, pronto para dar a notícia, como um assassino, ele anda rápido, ele vai dizer, ele não se contém. Clara, com olhos pesados, cai ao chão e sua dança termina. Fim do quarto ato, ela está em seu quarto. Brinca com os dedos em sua barriga, o que está nascendo ali? Suas sardas a deixam mais lindas ainda na luz da manhã, seus olhos azuis estão mais azuis hoje. Quem era o homem da primeira fila?

(se você leu não ouvindo a música dita no título, você não realmente leu).
oi chuva.

nunca meu drink predileto.

finalmente acordei!
finalmente dormi!

acordei às 9, domingo. tinha ido dormir às 6. não estava certo. sim, são números bonitos. um o inverso do outro, uma posição sexual, uma conversa envolvente, um significado (não) muito grande. mas ainda assim eu estava com sono. mas ainda assim eu não conseguia dormir. mas ainda assim eu precisava descansar.
estava enjoada. fiquei deitada assistindo filmes a tarde toda enquanto não conseguia me mexer. minha mãe me alimentou e fez seu papel perguntando se eu estava bem. eu estava, sabe. era só...cansaço misturado com álcool, nunca meu drink predileto.
resolvi tomar um banho, e ajudou até. fui até a sala e fiquei lendo.
percebi que teria a chance de cair no sono mesmo sendo ainda 5 da tarde e mudei o ambiente para o meu quarto.
li, li, li e dormi.
.
.
.
acordo na segunda (?) às 9 e penso se é coincidência. eu acredito em coincidência? sempre fugi dessa pergunta e não será nesse post que irei enfrentá-la/respondê-la. uma dor de cabeça insistente não me deixou até agora. não me deixou com a comida caseira da vovó, não me deixou com o abraço quente da minha mãe e não me deixa agora que eu escrevo para tirá-la daqui. tentando transformar meu blog em uma penseira. um lugar onde ponho minhas lembranças e sentimentos. e posso relaxar, sem o medo de esquecê-los. afinal, eles estarão aqui até que a internet acabe. e se um dia a internet acabar, nós também já estaremos bem diferentes do que somos agora. e foda-se! que minhas memórias fiquem perdidas por aí.
quem realmente se importa?

ainda estou aqui e não sei porquê. afinal, isso aqui foi uma saída para a minha dor(que ainda não passou), e não para discutir a poesia ou os mistérios da minha vida da maneira mais hipócrita que a maioria dos blogs fazem. aff, qual o sentido disso tudo?
grande merda, 'vou escrever meus sentimentos'. NÃO SE ESCREVE OS SENTIMENTOS! quem realmente acredita nisso? eu. todos somos enganados. enganados por nós mesmos, o que particularmente acho pior.
a dor ainda não passou.
é...realmente não foi meu drink predileto. e nunca será. mas é o mais verdadeiro do qual tomei. acho difícil existir um como tal. ahn, acho que tomei o drink da realidade. e com ele vem sorrisos e dor. o que mais?

sexta-feira, novembro 14

lá do alto.

acho que o maior e único mistério em minha vida sempre será o céu.
e não há poesia que o descreva.

into my wildness #2

"suas idéias não correspondem aos fatos". Não, não gosto de Cazuza. Mas essa frase é tão verdadeira... Assim como "we all become what we once hated". Já passei por elas, e é verdade. E sei que um dia vai chegar a minha vez, a minha transformação em algo que odeio. Tenho medo de mim mesma.
meus óculos escuros blasè já não escondem mais minhas olheiras. vou parar...

quinta-feira, novembro 13

lembrança de um fragmento.

andei revendo umas fotos aí....
não posso dizer que foi doloroso. mas trouxe coisas que já haviam ido.
não quero abrir essa caixa que já passei fita crepe.

quanto ao filme: sim, foi doloroso. trouxe coisas que já haviam ido. e eventualmente abri a caixa.
mas ainda tenho fita crepe.....lá no armário....

Fragmento de uma lembrança #3.

Abri a porta e seu joelho sangrava. Ainda sentia nojo de você. Um nojo visceral que, achava eu, nunca seria capaz de sentir. Fiz um curativo. Você chorava. Foi a única vez que o vi chorando.
No quarto, nos beijamos. Tinha um gosto estranho do remédio que eu passara no rosto. Deitados na cama, o nojo se transformou em desejo. Você não entendia, nem eu.
nem eu.
Foi engraçado ver a delicadeza que você me tratava, como se fosse a nossa primeira vez. Não havia o desejo carnal da sua parte. E por isso, acho que foi ruim.
Gozei. E logo em seguida vi o que estava fazendo. Me satisfazendo, buscando vingança. Pensei: você conseguiu o que queria, né? Mas não era isso que você realmente queria. Você me queria de volta, só isso. O nojo voltou e te empurrei pra longe. Respirei fundo, virei para o lado e dormi. Silêncio.
No dia seguinte você teve que ir embora, não parecia nada certo em minha mente.
Me senti culpada com o gosto da vingança em minha genitália, e só agora entendo:
fudi como um homem fode.

into my wildness.

fico possessa. simplesmente possessa.
nem me despedi de quem eu mais amo.
no ônibus, enfiei a cara no livro e não falei com ele até chegarmos no lugar.
possessa. não entendi e ainda não entendo.
quero sair desse ambiente em que vivo, em que tenho que dividir o espaço. não é questão de ter que dividir com alguém, é de dividí-lo com você.
como pode ser eu crescida o suficiente e você criança para sempre?
achava que era tudo uma questão de quem nasceu primeiro.
o ovo ou a galinha?
me enganei. nasci por último, porém renasço a cada segundo.
ele nasceu primeiro, porém morre a cada suspiro.

congela!




esqueci de respirar.

segunda-feira, novembro 10

verbo querer.

quero fugir fugir
gufir golfar galopar
quero trocar trocar
cortar cultuar cantar
quero jogar gozar
me jogar

quero você
sem me arrepender.

O que é a poesia?# 2

Essa certeza encontrada na poesia me é estranha. Pois a poesia, com certeza, é formada de incertezas.
o senso-comum é o travesseiro que todos apoiamos a cabeça na hora de dormir.

domingo, novembro 9

O que é a poesia?

Toda pergunta tem sua resposta. Se não a encontrou é porque não procurou na poesia.

Camelos Também Choram.

Em meio aos mongóis, vestidos com seus gorros Adidas e belos vestidos de seda, onde a televisão é novidade, uma mãe negligencia seu filhote. O filhote, então, negligencia seu leite. Um violino é amarrado à corcunda da mãe e um velho o toca. Uma mulher canta. O camelo chora. O filhote consegue o leite e a mãe continua chorando. Uma das cenas mais lindas que já vi no cinema. Enquanto a areia dança ao vento... E no final, todos em uma só canção: a do alívio, do amor, do leite.

sábado, novembro 8

o mistério tem silêncio
som difícil de verdade

sexta-feira, novembro 7

gomo.

perdi a receita do suco de laranja.
perdi o pedir perdão?

não.
assim espero.

tic sem o tac.

tempo, tempo
cadê você?

preciso de você
mas gosto de não tê-lo
gosto de sentir falta
mas no fundo nao sinto falta

tempo, tempo
cansei de você

quero viver sozinha
furando, agulhetando (?), amando
quero viver sempre na hora do chá
quero sempre fumar e dessa fumaça sair meu verdadeiro eu
meu verdadeiro ser, e meu verdadeiro aprender

experiência? nenhuma
o que quero mesmo é com três colheres de açúcar,
obrigada.