sexta-feira, dezembro 18

pluma, tela, pétala

diz que cheiro a doce
pois você cheira à maresia
só que menos salgada

sua pele morena
lisa
toda menininha
indefesa
tentando aparentar força
tenta

seu riso tímido
a entrega
o medo de pisar em falso
(que tanto se parece com o meu)
se confunde entre os hematomas
de outros tempos

como pode você querer ser
logo ao meu lado?

gosto de mastigar seu sorriso
e
com um escancarado
me entrego
achando sempre
tudo muito engraçado

quarta-feira, dezembro 16

grama recém cortada

o cheiro inconfundível de jaca que
paira no ar
sozinha, contemplo
onde estará a aranha
que teceu
esta grande
teia?
sua semente é tão
frágil que
explode com um
tímido toque
pega vareta com
os troncos
velhos amontoados
esqueceram de
avisar
sumiram com a placa
que quem perde o jogo
no pântano afunda

pois vou me dependurar num
desses cipós
e ver qual é a de ser livre

o grande poder transformador

"oh, amor, ai
amor bobagem que a gente não explica, ai ai
prova um bocadinho, ô
fica envenenado, ê
e pro resto da vida é um tal de sofrer
ôlará, ôlerê"

sentado na verde poltrona da sala

a velhice te seca
esquecido no sol,
congela
parece
(só parece)
que acabou de sair de um campo
de concentração

terça-feira, dezembro 1

"sabia que tudo o que se fala fica para sempre no mundo?"

olha para mim e sorri,
assim
como você faz

quem sai ai ai de mim?
sempre que me desdobro de ti.

cheiro chuva

tá ficando cinza
rápido
rápido demais
nuvens dançando
rápido
no ritmo da salsita
cubanos e norte americanos
juntos
a bailar
e os pingos começam
a cair

(só espero que meu copo não caia na
cabeça de ninguém)

quarta-feira, novembro 25

filha de reis

como você fica linda
dormindo aí
com as pernas de trás no queixo
as da frente as abraçando
sua respiração é silenciosa
sonhando, possível
se camufla na
colcha indiana
combina graciosamente com todos os
objetos da casa
grisalha,
aparenta velhice
toda serelepe suspira com desprezo

terça-feira, novembro 24

achei meu Doctor Robert.

dizzie e confusa

I need you
I don't need you

te recusei
como nunca outrora

'baby, odeio insistir mas...'
mas nada, baby
bye bye
say hello when you cry

meu desejo se voltou contra você

I don't mean to sugest that I love you the best

é só legal
poder dizer não
pra quem nunca dizze antes

I need you
I don't need you

come on and say that you're sorry
real sorry
for the trouble that you've caused

can't you see all this love?

we don't believe in you
we don't believe in you

não existe presente

só o desejo de existir

sexta-feira, novembro 20

nós

de repente nossas pernas
viraram cordas
se entrelaçaram
e criaram dois nós

atadas pela luxúria
fizemos o que restava
e foi o que sobrou

quando tentamos nos separar
tropeçamos em nós
mesmos

ela só queria o amor, o amor e mais nada

vai
grita do lado daí
que eu
grito do lado de cá

vamos ver quem samba mais alto

não é que o tal de carlos curtiou o bolero?
ravel ficaria muito feliz, muito feliz

os olhos de dorian são
tão azuis a ponto de vermos
nuvens navegando infinitamente entre
sua pupila e íris?

sou mais o pintor
que com golpes de pincel,
eu sei
é o amor
que ninguém mais vê

smack dab in the middle
e ela só de roupa d'baixo
empurrando as pesadas caixas
que giravam no ritmo do blues
seus dedos estalando
oh! livros nas prateleiras
agradeciam seu devido lugar

como é bom se sentir em casa

casa comigo?

quarta-feira, novembro 18

para sandra

meu dia a
dia
me engole

todinha

sem deixar rastros
pegadas
pistas

espero que alguém me encontre nesse estômago
antes que o ácido me envolva
verde

faz de conta que não te olhei
nem toquei na sua mão

tudo seria tão mais simples
se não fosse por você
quem disse,
afinal
que queria eu um lugar nesse mundo?

terça-feira, novembro 10

"uma orquídea vermelha brotou no fundo do conta-gotas"

Carne Negra é como um queijo rançoso, tão saborosíssima e enjoativa que seus apreciadores comem, vomitam e voltam a comer até desabarem de exaustão. Um jovem maquiado serpenteou para dentro do café e apanhou uma das imensas garras negras, espalhando ondas de seu cheiro adocicado e enjoativo.

atenciosamente,
W.B.

sexta-feira, outubro 30

(...)

.

- voltando a cerne da nossa discussão filosófica, o que faremos?
- po...não sei...aqui embaixo do meu novo prédio tem um boteco. Ontem tinham duas mulheres falando sobre cinema; anteontem, caminhoneiros.
- fatalmente hoje haverá caminhoneiros falando sobre cinema.

terça-feira, outubro 27

quisera eu ser quem acho que sou

que pequenina essa menina
encosta a perna na minha
enquanto me arrepio toda!
todinha!

sua pinta a faz feminina
sua voz, masculina
quanta brincadeira
para uma guria só

a caixa d'água é cúmplice
da fumaça que se mistura
à maresia

a meia anti-derrapante
ficou no pé
seu riso educado
sincero
na memória

ah...
como é bom abraçar a primavera
e dela
ver desabrochar uma nova eu mesma
camarões de uma figa!

sexta-feira, outubro 23

Diálogo de poetas (reprise)

"De onde eu não te conheço
me perguntou o poeta
se reconhecendo em mim.

Nos encontrávamos perdidos na poesia do mundo,
esquinas que alternam palavras e sentimentos.
Desconhecidos tão conhecidos."

quarta-feira, outubro 21

e que voltem a ser pessoas

acho que ando muito
diferente
não sei, mudei
acho que foi a maracujina
mas me sinto só
solitária




vazio



sinto que as pessoas não estão
na mesma que eu
elas estão p-e-s-s-o-a-s
converso com qualquer um
como se fosse um amigo
me exponho
apresento
minhas teorias idiotas
conto segredos
não minto
nunca

eles se assustam
estranha?
entrometeira?
idiota?

só quero um abraço
só quero que as pessoas se abracem

volta para casa

Nos despedimos e segui com ela pelas ruas que ela desconhecia. Conversamos todo o caminho e um beijo sem graça marcou a despedida. Até sexta!
Continuei meu caminho.
Engraçado isso que sinto. Algo novo. Mas não me parece novo. Embora seja. Só sei que é. Só sei que tá aqui. E alguma coisa é. Afinal, sinto.
(oh,quefeiodonaluísasempretentandoexplicarascoisasmasacabanãodizendonadasóasneirassóasneiras)
Passando por um canto vejo um grupo de homens suspeitos (com bigodes de Dalí) e um deles (tenhoaimpressãopensandobempossoestarparanóica) disse:
- Hm, ela estuda...
E este saiu do grupo e pareceu começar a me seguir. Fui com cuidado e me aproximanto de outos a volta (oh!tenhoqueverquandosaionovoAldebaránaBravo!dessemêsécomaBethânia).
Mais embaixo acompanho uma conversa de pai e filho:
- Porque é assim que a nossa sociedade funciona. Por isso que sentirá ciúmes da sua namorada.
- Mas e os padres? Por que eles não podem namorar?- em torno dos 7, pergunta vestindo seu quimono de judô (ouseriakaratê?tristenãosaberdiferenciaraslutasmarciais)
- Os padres são representates de Deus. São filhos de Deus.
- Não somos todos filhos de Deus?
-Claro. Mas os padres o representam aqui embaixo.
- Mas porquê?
Me afastei. Atravessei a rua e os dois pareciam me seguir. Pararam.
Na esquina, o velhinho da última papelaria da área fecha sua porta. (Nossaessecarajátavelhoelesempretrabalhouaquicomoserádirigirumapapelaria?)
Um casal. Homem alto e magro e uma mulher magérrima com um vestido vermelho curtíssimo. E suas pernas finíssimas pareciam que iam se despedaçar sobre a pedra portuguesa.
Olho os dois e dou um riso de despdrezo(porquefizisso?)
Já em frente ao parque lage vejo um dos seguranças da rua conversando com dois caras. Dei um boa noite tão educado e feliz que todos se espantaram. (hm...achoqueestoucurtindoessa).

sábado, outubro 17

paradoxos me excitam.

domingo, outubro 11

pingos da chuva tomavam conta da lente dos óculos como uma praga

Entrei no ônibus, estava frio, o motorista:
- o letreiro tá aceso?
Fiquei petrificada. Abri lentamente os lábios(esperandoqueelessoubessemarespostacerta) e me deixei mergulhar na pergunta. "O letreiro tá aceso?" Certamente que não sabia o que dizer (drogaluísajáfoismelhornisto) Tentava lembrar se estava ou não aceso Tinha a impressão de que sim estava Mas não tinha certeza Achava que sim e isso bastava Se dissesse "sim" tudo ficaria bem E se dissesse "não"? Ele apertaria o botão de acender e a luz acesa se apagaria Isso seria bom Noite que está algumas pessoas poderiam não ver o ônibus chegando e o perderiam mais chances deu viajar sem um obeso ao meu lado me espremendo contra a parede como o Joaquim meu último acompanhante de viagem (meusdentesbatiamnajanelatocandooquartomovimentodanonadebeethoven).
- sim.

terça-feira, outubro 6

* esse é para você

- adoro seu lábio de baixo.
embora o de cima ter sido negligenciado
o de baixo não seria o mesmo
se não fosse o de cima

sua silhueta esquecida na rua escura
só isso. e com o sono- dizem- extinguir
dores do coração e as mil mazelas naturais

saudade é a memória do coração
não, não
o nó
o nó do coração

comprou um vidro novo do velho perfume?

domingo, outubro 4

fragmento de uma lembrança (um pouco mais recente) #14

talvez eu devesse me cuidar
prestar atenção
talvez eu devesse fazer nada
é,
sempre estou ali para você
é,
fica cada vez mais fácil admitir
o quê?
que te amo
sempre amei
e sempre amarei?

não há ponto final
vivemos nas reticências

no meio da noite
despertei
você respirava profundamente
uma brisa fria entrava pela sala
pelada
busquei, com os olhos, suas pintas
as observei por exatamente 37 segundos
até adormecer
´
adoro deitar em seu peito
ouvir seu coração
enquanto suas pintas dançam pelos
meus cílios
abaraço seu corpo magro
suas pernas envolvem as minhas
e nada mais importa
o único homem que realmente me tem

quando nossos destinos
pela última vez
se encontrarem
olharemos um para o outro
e diremos
sem hesitar
- adeus
por uma última (primeira) vez

quarta-feira, setembro 30

o homem da gravata não-florida

então jaé jacaré!
beleza calabreza!

ele me faz rimar graça com garça
som com coração
ele é tudo:
meu camaleão
meu veloso

olhei para a menina no espelho
não tenho inveja dela
não tenho inveja da fidelidade
o sol subindo por seus jeans
só tenho inveja dos orgasmos múltiplos

ú!

sábado, setembro 26

a pinta clara sobre o nariz marrom

você rosna
enquanto agarro sua
pata de encontro
ao meu nariz

sentirei seu cheiro ao
longo da semana

finge que não liga
mas se gaba toda por
ter música sobre ela

se enrosca na
cama desfeita
me olha e com
esses mesmos, diz:
- te amo

sorrio e fecho os olhos
faz o mesmo

esfregando a pele de ouro marrom
do seu corpo contra o meu
enquanto os pêlos dessa deusa
tremem ao vento ateu
ela me conta sem certeza
tudo o que viveu

sexta-feira, setembro 25

de noite na cama

meu grande amor tinha
uma árvore crescendo em
seu banheiro
ah, deixa lá
ele já tem a alma saturada
de poesia

eu
fico entrincheirada
num sórdido egoísmo
orgástico
a palavra passa
pulo no pescoço dela
e sussurro ao pé do ouvido:
- fala peluda!

as palavras nunca respondem
dizem sem emitir som
dom
bacana e sacal
sacana e banal
as palavras nadam no papel

mom and dad took a 'don't be sad' pill

e as joaninhas?
alguma coisa está acontecendo com as joaninhas

bons sonhos
um beijo,
eu.

sábado, setembro 12

East St. Louis Toodle-do

Esse cara me derrubou no chão e cuspiu em cima.
A mulher loira da pinta na cara sorri demonstrando borras de batom nos dentes.
O de terno e gravata fuma um charuto.
O bueiro solta o eco do saxofone.
O mendigo dança.
Ih, acho que o rapaz se ferrou!
Perdeu sua mulher, que chora em volta de seu corpo morto.
O sangue escorrendo pelo asfalto enquanto o cinema estreia M for Murder.
No bar, o negro sapateia.
Seu anel está prestes a sair, emagreceu coitado, sem jantar há um tempo.
A moça de vestido vermelho empurra os pés para trás.
Seu sorriso pin up é ensurdecedor.

por uma luísa fascinada por Duke Ellington.

sábado, setembro 5

"contra todos os importadores de consciência enlatada"

no cemitério
de nosso amor
as lápides
guardam os ecos

a semente
que eu planto
germina música

a polifonia política:
as reticências

e o nome disso
querido,

OBSESSÃO

o fim

queria que você lembrasse
sempre do meu rosto quando
nos vimos pela primeira vez

"deixa o coração
ter a mania de
insistir em ser feliz
se o amor é
o corte e a cicatriz
pra que tanto medo
se esse é o nosso jeito
de culpar o desejo

para ouvir basta
abrir os poros
para que adiar um desejo
de alguém que lhe quer tanto beijo

quem de vocês
resiste a uma tentação?"

não me torture
não me cure
de você
deixa o amanhã dizer

isso é tão certo
como o amém
no fim da oração

pensa no essencial:
dorme
e acorda

sábado, agosto 29

sabe que está comigo sinto o molhado quente gostoso

o cheiro mudo a cada despedida
tive momentos
respirei a todos
guardei tudinho na gaveta
parecia balela
mas sempre gostei de você
por mais imperfeito que fosse
suas cores
ainda me surpreendem
te amo
e por isso
me despeço
com todos os cheiros impregnados em minha pele
nem sabonete dona beija
tira a memória
que guardei
desses acontecimentos
entrego a Deus meu ateísmo
adeus

meu vento sem mão

você brincava com o pião
enquanto eu observava as falhas da madeira
- é bem difícil
- tenta manter mais reto
você se divertia
eu sorria
amo esse homem
por mais anti semita que ele seja
amo esse homem
- você está muito bonita hoje
e me enlaça com seus braços

sexta-feira, agosto 21

pançamentos # 2

pensamento é fragmento fugaz do caos estruturado.

sexta-feira, agosto 14

suas unhas vermelhas arranhavam a saia de veludo preto

Ele desce do taxi. A porta se fecha gentilmente.
Ela suspira.
O motorista olha pelo retrovisor e a vê sorridente no banco de trás. Seu nome.
- Sofia.
Ele gostava desse nome.
- Everaldo.
- Nunca conheci ninguém com esse nome.
A praia passava pela janela. Abaixou um pouco o vidro para sentir a maresia.
- Ele gosta de você.
Chuviscava.
- Por que você diz isso?
- Ah... dá para perceber. Pelo olhar.
O olhar.
- Você ganha bem sendo taxista?
- Trabalhando para uma companhia vale a pena, sim. É um bom investimento.
Ela forçava um sorriso. Gostaria de estar já em casa se despindo ao som de seu Chopin. Pensava nele, também. Que, talvez, ele já tivesse a alma saturada de poesia.
- Alguma coisa acontece no seu coração?
Ela encarou o retrovisor.
- Sempre.

segunda-feira, agosto 10

a lágrima clara sobre a pele escura

Me emprestou o melhor do Bertolucci, enquanto eu pensava que não tinha nenhuma chance.
É difícil colocar as coisas em ordem com a sua voz na minha cabeça. Então te chantageei com um sorriso para ver se você ficava. E agora me sinto idiota ao saber que você já sabia disso.
Provavelmente você me vê rindo das suas piadas, como que eu não me importei quando roubou todos aqueles beijos.
Embora meu orgulho não seja fácil de atingir, conseguiu me derrubar quando me chutou para o escanteio com o seu jeans surrado e a camisa furada.
Eu não funciono direito com você perto de mim.
Mesmo que ele(sempre ele) não represente nada nos meus planos, isso só serve intimidar minhas lágrimas fúteis. Estou acostumada com isso, eu observo e não me assusto.
E agora estou agarrada às consequências esfregadas em minha cara. Sua mensagem foi brutal, mas o jeito que foi entregue foi gentil.
Talvez se eu me concentrasse mais acabaria esquecendo.
Ela só serve para me condicionar e suavizar meus desvios.
Apesar da minha frustração pela maneira como você pensa, eu sabia a verdade. Sabia que quando ela viesse faria esse estrago.
Pelo menos eu te atraía, e isso eu não esperava.
Não imaginei que você chegaria lá.
Nunca me odiei tanto pela minha idade.
Eu não funciono direito com você perto de mim.

quinta-feira, agosto 6

negociante de nuvens

troquei meu céu azul
pelo seu cinza
troquei minhas mordidas
pelo seu olhar
devastador
me cobre de incertezas
quando me despia das mesmas

o poeta, ao vestir o colete do pintor
acha cor para seus sentimentos

já disse
que as metáforas são perigosas
o amor começa por uma metáfora
ou melhor:
"o amor começa no momento em que
uma mulher se inscreve com uma palavra
em nossa memória poética"

leve-me contigo
e de nossas duas misérias
faremos
, talvez,
uma espécie de felicidade

maresia

um banco no meio do parque
guarda uma menina toda colorida!
sorri para os viajantes tentanto se misturar
há, já conheço a cidade!
que nada, jovem
criança,
saindo do berço
dando os primeiros passos além
do conhecido

olhando ao horizonte
podia jurar que tinha mar
tudo cinza
cadê a maresia?
eles não sentem falta d'água

um canto verde!
que maravilhosa descoberta, criança
é preciso navegar
sente-se aí
e escreva sobre os viajantes
escreva sobre os passantes
que mais tarde tem o amante
que é amante do amante

terça-feira, julho 28

enquanto te contemplo, me observas

E foi quando você me disse com um olhar:
" Deixe-me aspirar durante muito tempo, muito tempo, o odor de teus cabelos e mergulhar neles todo o meu rosto, como um homem com sede na água de uma fonte, e agitá-los com minha mão como um lenço perfumado para dispersar as lembranças no ar. Deixe meus dedos recortarem suas finas e melancólicas arquiteturas sob um céu imenso onde se espreguiça o eterno calor. No ardente ninho de tua cabeleira respiro o odor de tabaco misturado ao ópio e ao açúcar. Deixe-me morder, demoradamente, tuas mechas pesadas e negras. Quando mordisco teus cabelos elásticos e rebeldes parece-me que estou comendo lembranças."

As metáforas são perigosas.
Não se brinca com as metáforas.
O amor pode nascer de uma simples metáfora.

quarta-feira, julho 22

der suhwer gefasste entschluss

no baile em que dançam todas
alguém fica sem dançar
melhor é não ir ao baile
do que estar lá sem estar

tato, ternura, tontura
até as lágrimas que derramei
pelo livro de outro

sentimentos que dobram e desdobram
dentro do relógio
que faz sua remessa um pouco além
de mim

"quem não sabe povoar sua solidão também não sabe estar só no meio de uma multidão ocupadíssima"

domingo, julho 19

pançamentos

desenhe um mapa para se perder.

sexta-feira, julho 17

outro

só quero
o que não
o que nunca
o inviável
o impossível

não quero
o que já
o que foi
o vencido
o plausível

só quero
o que ainda
o que atiça
o impraticável
o incrível

não quero
o que sim
o que sempre
o sabido
o cabível

eu quero o outro

quinta-feira, julho 16

assédio

deixe-me umedecer seus lábios
com os meus

deixe-me gozar com infinito deleite
enquanto acaricia meus seios

no escuro da dúvida,
escrevo
só saberei como ficou minha letra ao amanhecer

pois sei, confusa
como minha mente

pare de me assediar com esses olhos,
pois sua boca é muda

não,
não pare

sábado, julho 11

versos mudos

o que pode valer a vida,
se o primeiro ensaio da vida
já é a própria vida?

o poeta é louco
põe fogo na água
e mergulha
nas labaredas

é a mágica
de viaj
ar

se alguém procura o infinito basta fechar os olhos:

terça-feira, julho 7

beba chá com porrada

das tripas,
o coração
te amo 24 horas por segundo
(enquanto me contento em ser faceta)
onde é que oculto a bruxa de mim mesma?

repressão de emoção dá câncer!
melhor é dançar
a dança é a língua escondida da alma

3 e 5
5 e 3
dois números ímpares
que separaram um par
"no mundo do eterno retorno,
cada gesto carrega o peso
de uma insustentável leveza"

Muss es sein?
Es muss sein!
Es muss sein!

Adiante todos os relógios do mundo em dois segundos sem que ninguém perceba.

quarta-feira, julho 1

duvido desse carnaval

altero o sorriso
inverto o rosto
o de dentro ri mais largo
fico só pensando
em ter um vento
que me tire deste cavalo cansado

uma nuvem calma
carrega um raio
tem tempestade
na alma

meu endereço na testa
meu endereço no poste
meu endereço nos seus dentes
que queimam como fogo

o olho pisca
um cisco no olho
pode ser
um mundo no olho

abra os olhos e diga:
ah..

fique como está
que fico muda vendo sua boca
duvido desse carnaval

sexta-feira, junho 26

O que faz Seu Jorge com um garfo na mão?
Enfrenta o dragão
E depois,
Come espetinhos de seu coração
Bem salgadinhos
Como o seu gozo que foi em vão

terça-feira, junho 23

e, então, fui desvendada

-cara, posso ser sincera?
analisando a sua situaçao atual com ele, e ao mesmo tempo tudo o que voce já passou com ele,coisas boas e ruins
e, principalemente, fazendo uma certa comparaçao com minha experiencia pessoal, eu acho ele já virou uma mera lembrança para você, o que você ainda nao se tocou 100% porque agora ele está de volta
mas, eu continuo achando que na realidade você olha para ele ou pensa nele lembrando dos bons momentos mas ao mesmo tempo, ele é uma certa mágoa dentro de você, um sentimento que foi frustrado e amargurado no seu peito
acho que de certa forma você o considera alguém que te causou decepçao e dor no passado,algo que te surpreendeu porque ele costumava ser genial em varios sentidos
e é por isso que você ainda mantem ele por perto: nada melhor que um sexo culpado
é disso que vc gosta luísa, do drama que vem junto com ele
e eu sinceramente não te julgo, porque faz parte sabe, a gente gosta mesmo de sofrer, de se dar a esse luxo
é bom as vezes se entregar à tristeza

é isso mesmo, mocinha, isso mesmo.

segunda-feira, junho 22

só há silêncio

embora
cante
existe
caos
lá fora
como
existe
treva
no vácuo
crio espaços
vago
sou lago
de meu mergulho
desligue
sua mente
flutue
rio abaixo
abandone
todo pensamento
renda-se
ao vazio
ouça
a cor dos
seus sonhos

um navegante desenhou na areia um imenso poema
(que foi submerso)


quinta-feira, junho 18

surpreenda-me

Quanto mais devo esperar?
eu,
aflita e só

já ficou óbvio
me arrumo para
na rua
te encontrar
na rua
você me mudar
me trazer de volta para esse mundo
ou me levar para um outro

cadê você?
você que está prestes a mudar minha vida
você que não sei quem é
quando não sei quem sou

e agora, o amanhã
cadê?

e meus olhos se desfazem em lágrimas
é o ciclo da ruína

adeus

"perigo é eu me esconder (em você)
e quando eu vou voltar?
ah, quem vai saber...
se alguém numa curva me convidar
eu vou lá
que andar é reconhecer,
olhar

eu preciso andar
um caminho só,
vou buscar alguém
que eu nem sei quem sou.

eu escrevo e te conto o que eu vi e me mostro de lá pra você.
guarde um sonho bom pra mim.

deixa o amanhã e a gente sorri
que o coração já quer descançar
clareia a minha vida, amor, no olhar

manda avisar que esse daqui
tem muito mais amor pra dar
avisa que é de se entregar
o viver"

quarta-feira, junho 17

sábado, junho 13

Sábado, junho 14

- Estou pensando em vender o apartamento e, com o dinheiro, viajar por aí.
- Posso ir com você?
- Claro.

Não consigo parar de pensar nesse diálogo. Obviamente é apenas um desejo vindo de minha mãe, coisa que nunca irá se concretizar segundo a própria. Ela diz que ultimamente, saindo em minha companhia e na de meus amigos, tem repensado sua vida. E que isso seria o melhor que ela poderia fazer. Mas que por ter uma filha, não o poderia. Mesmo sabendo que eu iria junto. O meu "futuro" ainda está em jogo. E o dinheiro eventualmente acabaria e não teríamos como continuar, ou ter uma base ao voltar. Fiquei imaginando os rostos dos meus familiares e suas palavras de reprovação. Talvez eu não queira ter esse "futuro" que eles tanto dizem, talvez eu só queira viajar por aí. Me pergunte 'quem diz?'. ELES! SEMPRE ELES!
E recebo o maior apoio que poderia receber, o de minha própria mãe. Mas sei que esse apoio não é infinito. Se eu o fizer, sei que enfrentarei não só o de meus familiares, mas O olhar dela também. E esse é o mais difícil de enfrenter, porque tenho um amor maior do que qualquer pessoa que já passou pela minha vida. E justamente por ela ser sempre minha cúmplice, é mais difícil deixar para trás esses olhos acizentados esverdeados. Seu olhar de reprovação mostra que o desejo é mútuo, para ela é um sonho, e para mim ainda é real. Eu poderia ir sozinha, nada me impede. Largaria tudo o que tenho pelo mundo, sem hesitar. Mas sei que voltaria. Acabaria percebendo que não há vida quando se vive só. E na volta, alguns me perguntariam: "Por que foi, então? Se sabia que ia voltar com esse sentimento?". Olharia para a pessoa, no fundo de seus vazios olhos, e reconheceria ali um coração que deseja o mesmo tipo de coragem. Responderia: todas as suas memórias são tudo que você já cheirou. Suspiraria, e pensaria: Que saudade do futuro!

quinta-feira, junho 11

Fragmento de uma lembrança # 13

Gostava da sensação de acordar com as bochechas arranhadas e vermelhas pelas penas de ganso que saíam pela fronha do seu travesseiro. E de olhar para o lado e te ver, ali, com os cabelos negros lisos bagunçados, necessitando de um banho. Eu contava todas as pintas das suas costas. Mas as minhas prediletas, minha constelação, estavam na frente, um pouco abaixo do pescoço, no ombro esquerdo. E esperava até que você virasse para mim, e ainda de olhos fechados soltasse um suspiro. Um suspiro que indicava sua presença. Você ainda solta o mesmo suspiro um pouco antes de acordar.
Eu notei.

domingo, junho 7

Fragmento de uma lembrança # 12 (versão confusa)

pensando por essas águas
vi meu reflexo
por trás de mim, vi aquele enorme submarino
e na janelinha a direita pude ver seu rosto
me olhava como nunca olhara antes
ainda não me conhecia?
seu tênis quadriculado vermelho estava sujo
reconheceu-me também?
sentiu que já vira meu rosto?
mesmo disforme pela água
foi uma visão do futuro
um curto pensamento que previa o que estava pra acontecer
entre nós

seus dedos dedilhavam pelas cordas
um anel dourado indicava presença
se deixei alguma marca em você foi o cheiro
nenhum anel que com o tempo se torna encardido

seu pé batia no ritmo da música
eu tentava não te olhar
fingir que não o via
que não o reconhecia
antes mesmo de te conhecer
fingi que olhava para o da stratocaster
porém não resisti à sua gibson

o cogumelo em sua blusa sorria
sua namorada carregava meu nome
gostei do sorriso que deu ao saber o meu
gostei ainda mais quando acabou sua participação na música
e seu braço deslizou pela guitarra
nesse momento me apaixonei pelo seu antebraço
sentimento que compartilho até hoje

não sentia vontade de tirar sua roupa
mas já sabia como ficava sem ela
no futuro eu saberia
eu sabia que eu saberia
só ainda não sabia

eu deveria ter percebido ao vê-lo sorrir
ali estava a prova de todos os males que sua presença me traria
um sorriso do gato misturado com o do palhaço
uma mistura do meu predileto com o que mais temo
como fui tola, deveria ter percebido
estava bem ali, na minha frente
seu cartão de visitas
só agora percebo, tarde
o estrago já foi feito
o leite derramado
catar as natas não foi o suficiente
caí perdidamente na armadilha
me tornei prisioneira da eternidade

quantas você já aprisionou?
e bato palmas a minha idiotice
o que seria de mim sem esse amor que me foi lançado, cultivado
preparem as catapultas!
corações irão rolar
preparem os guarda chuvas!
todos irão se despedaçar

pretérito perfeito do indicativo

você sabe que é fácil
fácil assim
que é só segurar na minha mão que te seguirei
pularei trilhos e andarei sobre arcos
olharei para baixo e fingirei indiferença
sorrirei para o graçon, mesmo estando desmaiada
deitarei nos degraus das ruínas
brincarei de ser maior
mentirei
sambarei aos seus braços, somente neles
começarei a gostar de pagode
pararei de usar sutiã
pararei de fumar
começarei a correr
juntarei dinheiro
viajarei mais
gostarei de bolinho de bacalhau
saberei cantar no tem certo do Jorge
direi sim sim sim e nunca não, nunca 'nunca'
fingirei que estou machucada para me carregar
só direi a verdade
respeitarei mais as diferenças de pensamentos dos meus amigos
tocarei mais violão
aprenderei piano
cozinharei
farei sua barba
abotoarei sua blusa
só para depois desabotoá-la
fingirei ser sua e só sua

e tudo isso num fim de semana.

saber o que se tem é ter mais do que se tinha antes

o óbvio é preguiçoso
não nos faz pensar
"o que seria do amor sem os pensamentos provenientes do ócio?"
ou simplesmente do de repente
ah, que saudade dessa gente!
asfaltados por dementes
caí na faixa de pedestres

todos os presentes na mesa se chocaram
e num instante,
se calaram
acho que foi a gelatina, pensou o da cabeceira
será que meus esmaltes estão vermelhos demais?, pensou a da outra cabeceira
mas o barulho vinha da geladeira
esqueceram o menino dentro da frigideira!

de mãos dadas nossos corpos flutuam juntos
fácil
num segundo estamos aqui
outro lá fora, onde não existe
lá, onde só há música
onde só enxergamos, cheiramos, saboreamos, sentimos e ouvimos a música
e os grilos
os grilos sempre presentes.

segunda-feira, junho 1

o que você diria se eu cantasse fora do tom?

sábado, maio 30

Hoje eu só quero uma pausa de mil compassos

" A incerteza de um amor
que mais me faz penar em esperar
em conduzir-te um dia
ao pé do altar
jurar, aos pés do onipotente
em preces comoventes de dor
e receber a unção de tua gratidão
depois de remir meus desejos
em nuvens de beijos
hei de envolver-te até meu padecer
de todo fenecer

E o que passou, calou
e o que virá, dirá
e só ao seu lado, seu telhado
me faz feliz de novo
o tempo vai passar
e tudo vai entrar no jeito certo de nós dois
as coisas são assim
e se será, será
pra ser sincero, meu remédio é te amar, te amar
não pense, por favor
que eu não sei dizer
que é amor tudo que eu sinto longe de você

Deixa o coração
ter a mania de insistir em ser feliz
se o amor é o corte e a cicatriz
pra que tanto medo
se esse é o nosso jeito de culpar o desejo"

E eu pensava em passar pela vida com você...

Resumindo a Ópera

Por que não me entrego?
Me renego.
Não é fácil deixar o chão que se pisa.

Sei que vou parar de te amar
Provavelmente quando eu deixar de respirar

"Eu devia te deixar
Mas vou continuar
Para castigar meu próprio coração"

E então,
pulei
E não mais voltei

terça-feira, maio 26

com a boca fácil no infinito, beije teu enorme lado tranquilo

- Ta tudo bem? - ele perguntou assustado. Seu olhar demonstrava preocupação com o outro olhar, perdido no mar.
Ela não respondeu, apenas balançou a cabeça, indicando que sim.
- O que aconteceu?
Ela abriu a boca, e tentou falar. A primeira letra saiu num sussurro, a segunda um pouco mais alta, a terceira já se compreendia.
- ntem, estava sem sono e resolvi sair da barraca para tomar um ar, ver a lua. Ela estava cheia, e o céu coberto de estrelas. O mar estava calmo e eu sentei na areia, esperando o sono vir. De repente, tudo ficou silencioso, não se ouvia mais as ondas do mar, nem os animais, eu só ouvia a grama atrás de mim, crescendo... O céu, então, ficou todo preto, as estrelas desapareceram e nem a lua iluminava mais o que antes era minha cantiga de ninar. Fiquei rodeada pelo escuro. Um sentimento de medo se apossou de mim, mas antes que conseguisse me dominar por inteira pontos luminosos passaram pelo céu. Milhares deles, cobriam o céu inteiro com sua luz esverdeada. Tudo em volta de mim ficou verde. A areia, o mar, a floresta, as cabanas, meus pés, o silêncio. Meus olhos não piscavam. Tentei gritar, chamar vocês, me mexer, mas nada consegui. Era um conjunto nunca antes visto por mim, e acho que por ninguém, de estrelas cadentes. Num segundo depois a lua voltou ao seu lugar e à sua devida cor. As estrelas também estavam lá, e o barulho do mar... Ouvi algo atrás de mim, e quando me virei, vi vindo em minha direção, uma pantera. Seu pelo preto brilhava à luz da lua, seus olhos refletiam todas as estrelas presentes no céu. Ela me olhava. Continuei sem conseguir me mexer. Ela veio até mim e sentou ao meu lado. Olhou para frente, para o mar. E fiz o mesmo. Ficamos assim, paralizadas, assistindo ao mar. Alguns minutos depois ela se levantou e foi embora. Eu não fiz nenhum desejo.

segunda-feira, maio 25

que antes de te conhecer eu não cheguei a ser

Esse último fim de semana foi dos mais longos. Provavelmente o mais longo. Daqueles em que você acorda às 6 da manhã tendo ido dormir às 5. E você desperta ainda como foi dormir. Passar 72 horas fora de seu corpo, e ao mesmo tempo tão dentro, causa uma sensação de estranhesa perturbadora. Começo a não me reconhecer em meus próprios movimentos. Meu corpo já não me obedece e é quando meus lábios começam a ficar brancos, e a se afastar dos seus.

Sua presença nas primeiras 24 horas foram fundamentais para o desfecho das 48 seguidas. Me senti solta no mundo, e ao mesmo tempo tão presa. E ingênua, em me colocar em tal estado elevado de mim mesma. Ainda fora de mim, me olho no espelho. Meu pescoço guarda marcas da noite anterior e meus olhos continuam adormecidos. Meus pés dançam ao som de I'm Through With Love e tudo parece não estar em seu devido lugar.

Meu nariz com a mesma sensação de negligência. Meus pulmões mais envenenados. Meus neurônios mais destruídos. As sapatilhas não saíram de meus pés, pertencem a mim, fazem por mim o que não consigo sozinha fazer. Andar.

Definitivamente não pertenco mais àquela tribo. Não mais farei meus rituais ali. São todos iguais, todos iguais. Quero o novo. Não o de novo. Quero dançar com um outro par, pra variar. Quero outros dedos tocando meu piano. Meu plano de fundo continua o mesmo. Minha trilha sonora mais sofisticada.

Saí da barraca no meio da noite e me deparei com a lua, é lá onde quero estar, meu legado deixar. Você me mostrou, me deu essa deixa. Agora percebi. Era você, e sempre foi. Sumirá mais uma vez e deixará toda a responsabilidade e minhas mãos?, afinal é minha vida.

Você é apenas uma das cartas, o coringa. Às vezes desejado, outras nem tanto. Você aparece e movimenta ondas. Um novo estágio de mudança chega. Let's spend the night together, now I need you more then ever. Mas você não virá, você irá. E quando voltar, voltará para me mudar, mais uma vez. Parece que é uma peça solta, que falta para me fazer funcionar.

Nunca me senti tão sozinha quanto agora. Você me deixou claro o que devo fazer. O que já estou fazendo. Solidão, é a resposta. Como consegue? É dos seres mais solitários que já conheci. Me pergunto se tive alguma influência nisso. Só ao seu lado não me sinto só. Mas que grande ilusão, minha vida não é feita de seus abraços. Por isso você continua indo embora, para isso me mostrar.
Já vi, percebi, obrigada.
Agora volte, por favor.

terça-feira, maio 19

A Lua

A lua estava alta no céu, iluminando todo o jardim que permanecia com suas luzes apagadas. Um farol de carro é visto e um Landau azul claro estaciona em frente a grande porta azul de madeira. Ele desce do carro, e o único ruído que é possível ser ouvido é de seu tênis arrastando na terra dura que pisa. Ele dá três batidas e passos são ouvidos. Uma alta mulher, loira, casa dos 40, abre a porta com uma vela na mão. Ao ver o rosto em sua frente, ele sorri. Ela se assusta, demonstra surpresa no olhar.
- Seus olhos ficam um azul claro lindo na luz da lua. - diz ele.
Ela começa a chorar e o abraça fervorosamente.
Os dois entram e se dirigem para a sala. O sofá vermelho continuava lá, e o chão continuava a não existir, forrado por tapetes orientais. Há velas espalhadas e pilhas de livros pelas paredes. E no centro, uma grande almofada branca com folhas escritas a mão e uma taça acompanhada de uma garrafa de vinho.
Eles se sentam, ela afasta as folhas. Ele pergunta:
- O que você estava escrevendo?
- Sobre você.
Ele não diz nada.
- Faz tempo que não publico nada. - ela completa.
- A casa não mudou.
- Eu sei que você gosta dela assim. Eu sabia que você ia voltar. Por que foi embora?
- O que aconteceu com Frida?
- Ah... ela ficou doente. Acho que sentiu muita falta sua. (Pausa) Por onde você andou?
- Você está sozinha aqui há quanto tempo?
Ela sorri.
- Seu cabelo está bonito assim, te deixa com cara de mais velho.
- Ah mãe. Não começa a falar sobre meu cabelo. Você sempre faz isso quando quer mudar de assunto. Me responde, há quanto tempo está sozinha?
- Você também está fugindo das minhas perguntas. E se você realmente se importasse com minha solidão não teria nem saído daqui.
- Como pode você me julgar?! Você fez o mesmo! E diz isso com todo o orgulho que há dentro de você!
- Eu já tinha 18 anos quando fiz minha viagem, você só tem 15!
- Se alguém tem culpa da minha prematura emancipação é você, que me educou nos moldes nada tradicionais.
Ela sorriu. Ele também.
- Vem cá, quero te ver mais de perto.
Ele se aproximou. Ficou de joelhos, assim como ela, apoiados na grande almofada.
- Seus olhos estão menos verdes... mais cinzas.- ela disse.
- Você tem mais rugas.
- Ah, é um horror envelhecer, não desejo o mesmo a você.
- Inevitável como a morte.
- Pode-se evitar com a morte.
- Morte como instrumento? A velhice não pode ser tão ruim...
- A velhice são os últimos passos para a morte, repleta de sofrimentos. Por que, então, trilhar esses passos?
- Você está mais linda do que nunca.
Ela sorri.
Num impulso, os dois se abraçam fortemente. Novas lágrimas surgem, dessa vez em ambos pares de olhos. O abraço está mais apertado, seus olhos se encontram, e nariz com nariz, se beijam. Um beijo longo, cheio de um ardor feroz. A mãe aperta o braço do filho, o filho desce a mão pelas costas da mãe. Ela o puxa para mais próximo. Ele denuncia um tesão nunca visto. Ela se sente igual.
"Com um movimento brusco, com fervor dócil, ela tira a camisola, mostrando uma frágil silhueta branca onde os espessos pelos negros se destacavam num triste abandono"
Ela o ajuda com o cinto, calça, tênis, blusa. Os dois estão nus. Assim como quando se viram pela primeira vez. O mesmo sentimento de prazer infinito.
Logo, seus corpos estão inseparáveis. Com fortes movimentos suas pintas dançam entre si. Nada é possível separar tamanha ligação.
O movimento contínuo toma outro ritmo, mais rápido, mais forte. Ela grita, ele também. Os seus gozos se encontram no meio do caminho. Seus corpos permanecem paralizados.
Para sempre.

sábado, maio 16

A Incrível História do Menino que Engoliu Um Tênis

A criança comeu o tênis. A família não conseguia acreditar. A criança continuava arrotando chulé e a família não conseguia acreditar. Levaram a criança ao médico e ele não conseguia acreditar.
- Façamos um raio x, então! - propôs o médico que não conseguia acreditar.
Pimba! Sai no raio x um pequeno all star lá na barriga. Todos olham estupefatos. A criança arrota e todos saem da sala pelo mau cheiro.
- E agora, doutor? Como a gente faz? - pergunta a mãe com lágrimas nos olhos.
O doutor, pensativo, olha para o chão e depois para os olhos da mãe e diz:
- Vamos ter que abrir a barriga da criança.
- Mas ele só tem 4 anos!
- Receio não haver nada mais que possamos fazer, senhora. Não podemos esperar que ele defeque, pois o tênis é muito grande para... a senhora sabe. E todos esses arrotos são o organismo tentando expulsar o inquilino do corpo. Devemos operar senhora, nunca ouvi nada parecido antes.
A mãe estava arrasada. Não conseguia entender como aquilo acontecera, sempre fora uma mãe cuidadosa. Nunca deixou seu filho passar fome nem mastigar chicletes. Nunca deixou seu filho comer minhocas ou botar coisas do chão na boca. Nem nunca deu coca cola ou chocolate em demasia. E assim, sem mais nem menos, o garoto engolia um tênis?!
O médico, para agradar a mãe, resolveu fazer mais exames, mesmo que não necessário, para saber um pouco mais antes de operar.
As belas enfermeiras botaram a criança deitada na maca de ressonância magnética e a empurraram para a grande rosca, nos olhos da criança, que na verdade era um grande ímã que tiraria fotos em movimento de seu cérebro.
A mãe iria acompanhar o exame na salinha ao lado, com o médico.
- Então, vamos lá. - diz o médico apertando o botão de "ligar" da máquina.
Um barulho de lasanha quando fica tempo demais no microondas é ouvido.
A mãe e o médico olham para o grande vidro em sua frente que os separam da sala de exame e se deparam com a barriga da criança aberta. E na máquina, pendurado, está o tênis. Preso pelas taxinhas de ferro que o envolvem por inteiro.

quarta-feira, maio 13

é a hora, e agora, senhora?

não sei se consigo ser racional
'controlar o sentimento com minhas próprias mãos
frear as ondas do mar'
botar para dormir algo que já adormeceu
e despertou
dormir mais uma vez
não sei nem se quero ser racional
quer dizer, sei
não quero!
quero abraçar
e me jogar
nesse poço
que o fim já me aguarda
já estava traçado desde o momento que te conheci
me abraçar nesses braços de espinhos
e lá me empoleirar até cansar
ou simplesmente,
até morrer de hemorragia externa
com um sorriso triste nos quentes lábios

nouvelle vague plus me

"dance with me little stranger
love can be like band aid
seduce me once again
the way I wanna love you could be against the law

won't you dance with me
in my world of fantasy?
and then, love will tear us apart
again"

did I tell you that I need you every single day of my life?
oh, but that's a fucking lie.

o abismo também contempla

lá estava ela

sentada no chão frio do banheiro

seus fios de cabelo por todos os lados

ouvia os gritos animados do lado de fora

ouvia incansáveis BEBEE

e chorava

chorava para ninguém

para si mesma

chorava livremente

de alegria e tristeza

não havia perto nenhum objeto cortante

chorava suas máguas

chorava por inteira

as marcas em seu braço já desapareciam

as em seu peito reapareciam

lembrava da falta da pergunta

- o que deu o resultado?

nada

lhe trataria de novo, assim?

teria que descobrir sozinha o novo?

seria novo?

e então

uma fina linha de sangue escorreu pelo ladrilho branco e se misturou aos fios de seus lisos cabelos castanhos

negativo, então.

sexta-feira, maio 8

Uma declaração de amor a pedido de Stefan

"Se você está lendo significa que finalmente tive coragem de enviar, então bom pra min
Você não me conhece muito bem ainda, mas quando conhecer vai ver que tenho tendência de falar e falar sobre como se expressar é difícil pra min.
Mas isso, isso é a coisa mais difícil que já tive que escrever.
Não tem um jeito fácil de falar isso, então vou só falar:
Conheci alguém.
Foi acidental, eu não estava à procura,
Eu não estava à caça.
Foi um momento perfeito.
Ela disse uma coisa, eu disse outra.
Em seguida eu soube que queria passar o resto da vida no meio daquela conversa..
Agora tenho uma sensação estranha no peito.
Pode ser ela.
Ela é totalmente louca, de um jeito que me faz sorrir, altamente neurótica.
Ela é você, Camila.
Essa é a boa notícia.
A má é que não me sinto seguro o suficiente, e isso me assusta pra caralho.
Porque se eu não ficar com você agora, tenho essa sensação de que vamos nos perder por aí.
É um mundo grande, malvado, cheio de reviravoltas, e as pessoas tem esse jeito de piscar, e perder todo o momento.
O momento que poderia ter mudado tudo, à toa.
Eu não sei oque está acontecendo com agente, e não sei te dizer por que você devia arriscar um salto no escuro pra gostar de min, nunca me senti assim, acho que é bom.
Quero que você confie em min, não vou fazer nada que te faça sofrer, nem nada para te perder, afinal esse é meu medo, te perder.
Todo ciúmes, toda desconfiança, está em torno disso, meu medo.
Mas também sei que posso confiar em você, e por isso estou arriscando tudo.
Porra, quando estou com você me sinto feliz, alegre, quero rir, e te abraçar com toda minha força, que é muito grande.
Adoro seu cheiro, seu sorriso, ele é especial,
adoro tever sorrir."

por Stefan.

sexta-feira, maio 1

eu não me arrependo de você

nao, nada irá nesse mundo
apagar o desenho que temos aqui
nem o maior dos seus erros
meus erros, remorsos, o farão sumir
vejo essas novas pessoas
que nós engendramos em nós
e de nós
nada, nem que a gente morra,
desmente o que agora
chega à minha voz

os filhos, filmes, livros, ditos como um vendaval
espalham-se além da ilusão do seu ser pessoal
mas ele dói e brilha único, indivíduo, maravilha sem igual
já tem coragem de saber que é imortal

tudo certo como dois e dois são cinco
quando você me ouvir chorar
tente, não cante, não conte comigo
falo, não calo, não falo, deixo sangrar
algumas lágrimas bastam para consolar

a lembrança do branco de uma página
nada serve de chão
onde caiam minhas lágrimas

juntando-se os cacos do meu ex-infinito-amor
forma-se um lindo vitral

tudo vai mal, tudo
tudo mudou, não me iludo e contudo
é a mesma porta sem trinco, o mesmo teto
meu amor
tudo em volta está deserto, tudo certo
tudo certo como dois e dois são cinco

O Palhaço Pagliacci ou É Melhor Ser Alegre Que Ser Triste

um homem vai ao médico
diz que está deprimido
que a vida parece dura e cruel
conta que se sente só num mundo ameaçador
onde o que se anuncia é vago e incerto

o médico diz:
"o tratamento é simples
o grande palhaço Pagliacci está na cidade esta noite
vá ao show, isso deve animar você"

o homem se desfaz em lágrimas
e diz:
"mas, doutor...
eu sou o Pagliacci."

terça-feira, abril 21

introdução: ilusão à toa

talvez haja entre nós o mais total interdito
mas você é bonito o bastante
complexo o bastante
bom o bastante
pra tornar-se ao menos por um instante
o amante do amante
que antes de te conhecer
eu não cheguei a ser

e isso é tanto que pinta no meu canto
mas pode dispensar a fantasia
o sonho em branco e preto
amor mais que discreto
que é já uma alegria
até mesmo sem ter o seu passado, seu tempo
seu agora, seu antes, seu depois
sem ser remotamente
sequer imaginado
por qualquer de nós dois

sexta-feira, abril 17

Fragmento de uma lembrança # 11

"Hoje de manhã, você ainda dormia quando acordei. Ouvi sua respiração profunda. E, através do cabelo que escondia seu rosto, vi seus olhos. Eu engasguei de emoção. Além do seu rosto, pude ver algo mais puro e ainda mais profundo no qual eu me via refletida. Eu via a mim mesma. Numa dimensão que continha todo o tempo que nos resta de vida. Todos esses anos estavam lá. Também havia os que vivi sem conhecer você, para conhecer você. Naquele momento, percebi como amo você. A emoção foi tão intensa que meus olhos se encheram de lágrimas."

Prezado Doutor Atkins.

Prezado Doutor Atkins,
Semana passada segui sua dieta e agora eu desapareci. Vá a merda!
Sempre seu,
Maxwell.

terça-feira, abril 7



Quero dançar meu último tango em Paris com você.




Na horizontal.

Fragmento de uma lembrança # 10

Com a troca de olhares e telefonemas rotineiros o egoísmo te corroía por dentro e eu nem notei. Também não tem culpa eu por não ter notado. Não te percebi, maior pecado meu. O final não seria tão diferente, mas teria percebido, mais cedo do que percebi. Tão ferina me tornei... me enganei. Isso não é um pedido de desculpas. Foi um canalha também, o mais belo canalha!

Meu ventre continuou vazio.

letra TREMIDA pelo BALANÇO de UM sim OU um NÃO

Queria sumir, desaparecer, me transformar em letra do alfabeto. Daquelas que não são muito utilizadas. Em um H talvez... que muitas vezes passa despercebido. E assim me imortalizar em algo que não me provoque o motivo de viver:
Amor, sempre amor.

sábado, março 28

Nicotina: 0,6 mg

As pernas dela, depiladas. As dele, indecisas.

O sentimento esfarelado na poeira que o vento arrastava para as grades do esgoto.

A fidelidade ao sentimento amoroso é a condição existencial.

quarta-feira, março 25

Ninfas do Bosque

Com o rosto para fora da janela
sinto o vento, e o cheiro..
A mata me envolve por repleto
Enquanto a ópera me preenche por completo

Todas as paredes repletas de era
Um velho portão guarda um secreto jardim

Correndo atrás do sol,
e o sol nos alcança
ou a gente alcança o sol?

Choro preso no peito,
orquestra pulsando lágrima,
escavadeira em mão de atista faz cócegas,
enquanto que as palavras perfuram os órgãos
não deixando nada além

da saudade.

Cabides

Vou arrancar sua blusa, botar no cabide, só para pendurar.
Se eu disser que não ligo, não te vivo, vou estar mentindo?
E se eu disser que amo, sempre amei e sempre amarei, estarei falando a verdade?
Há! Novidade...

sábado, março 21

Vou procurando por algo assim..

e crio casos em cada esquina
isso me cansa
acho que o amor não se cria

vivo em busca de uma maquete humana,
que preencha os espaços
tal coisa não existe
tola! tola!

me espelhei em você quando sorri
brinquei com a ponta do meu vestido
fiquei vesga para ver a estampa dançar

e num passo,
caí.

quarta-feira, março 18

Para ler ouvindo Libertango, de Yo Yo Ma.

Ela desce correndo as escadas, abre a porta e se joga fora no mundo.
Corre desesperada pelas ruas, em busca de seu grande amor. Corre, corre, corre.
Não entende como pode tê-lo perdido. Sua maior admiração, sua razão de vida. Como podem as pessoas perderem seu grande amor? É algo que não se perde, não é chave, não é senha, não é moeda de cinco centavos, nem de cinquenta. É algo enorme, que não cabe no bolso, que não se pode enterrar, que não se pode esquecer, que não cai no bueiro, que não se ignora ao passar em frente, que tem cheiro, que tem cor. Simplesmente não se perde.
Seu roupão está desamarrando, ela não se importa. Precisa achá-lo. Como pôde deixá-lo escapar?
O sinal fecha, e ao longe ela o vê, no meio da linha de pedestre, alcança-o.
Se ajoelha e chora, abraça-o e chora.
Naquele momento ela soube que nunca mais o perderia de vista.
Põe a coleira e volta antes que a luz verde se acendesse.

Hoje

Raiva; sentimento sadio, contanto que não seja destrutivo.

Sinto-me esmagada por tudo a minha volta.
Sinto-me presa.
Um presa diferente, tão diferente.
Simplesmente sufocada.
Não estou morrendo, mas está doendo.
Falta de ar.
Raiva, raiva da vizinha de cima que se incomoda pelos meus costumes.
Raiva da limitação dos amigos.
Raiva do sentimento que aos poucos volta.
Raiva do sentimento que sempre vai embora.
Raiva do choro preso no peito.
Raiva do pó, sempre presente.
Raiva dela, me cobrando a todo minuto.
Raiva da prova de física, que estragou o meu dia.
Raiva da depiladora, porque não tenho dinheiro.
Raiva da minha cachorra, que implora por sair.
Raiva do colégio, aquele sistema igual todos os dias, todos os dias, todos os dias.
Raiva da comida, que não me satisfaz como satisfazia.
Raiva das pessoas que acham que me entendem.
Raiva das pessoas que não me entendem.
Raiva de você.
Raiva de mim.
Raiva.

segunda-feira, março 16

Mais Uma Canção.

Entendi que sou para você o que você é para mim.
Não tinha idéia, e me fez bem ouvir.
Sendo verdade, sendo mentira.
Gostei de "ser"!

Fragmento de uma lembrança um pouco mais recente #9

No fundo eu sabia que você estaria lá, de alguma forma você iria.
Ainda assim restava dúvidas, nunca fui cem por cento certa de mim mesma.
E aí você aparaceu! Sujo, mal vestido, lindo.
Confesso que continuei com dúvida, minha insegurança sempre me domina nesses momentos, acredito que por medo de me machucar, sempre, não só com você.
Conversamos, mas não tanto, e isso me incomodou.
Porém, a noite foi caindo, e ao final dela você estava grudado ao meu lado, vidrado.

Você devia andar para o outro lado, mas foi me seguindo, aos poucos, do sei jeito sem se notar.
- Você não mora para lá?
- Moro?
- Ta... Você não vai para lá?
- Não sei...Vou?
Chegou mais perto e me beijou. Fomos parar na grade, e mais beijo. B-e-i-j-o. Palavra bonita, dá poesia, dá música, dá sorriso, dá frio na barriga, dá amor, dá paixão, dá ciúmes, dá palavrão, dá tesão, dá você e eu.
- Sabia que isso não teria mudado...
Eu sei, eu sei...Você é aquele típico galã, que envolve as pobres moças pelo coração e lhes diz coisas lindas, conhecidas, reconhecidas, e lindas e as põe em sua mão. Acredito em uma ou outra coisa que você me disse, o que já foi surpresa o suficiente.
Atuei em todo momento na defensiva, mesmo por dentro estar pegando fogo. Nada me fez dizer não. E te amei em cada movimento, estranhei também, muito. Foi uma lembrança viva. Uma cena imaginada tantas vezes... Realizada.
Achei que você iria fugir do óbvio, não comentar nada do passado, fingir que não existia. Mas é claro que não, você é diferente! Você é diferente sendo óbvio! Você brinca com as palavras e com os sentimentos. Confesso que gostei, não me fez chorar, me fez sorrir, e lembrar dos velhos tempos.
O dia seguinte foi mais estranho ainda. Foi um dia como os de antigamente. Ficar de bobeira em casa, com uma meia só no pé, deixando-a cair da cama, conversar com minha mãe durante horas e depois pegar o jornal para ir ao cinema. Ato perigoso! Aí foi demais para mim. Até queria ir... Mas seria demais, não sei se me faria sofrer mas seria altamenteíssimo estranho. Quem sabe outro dia.
Sei que passei a manhã pensando de vez em quando. E estava bem, minha mãe preocupada, mas estava bem. Sem choro, sem desespero, sem saudade, sem amor, aquele amor... Nada.
Talvez eu esteja pronta para isso, talvez não. Ao subir as escadas me deparei pensando:
"Não volte àquilo, não volte àquilo". Aquele meu estado morto. Estado zumbi que me movimentava por apenas lembrar que ainda estava viva. Sim, pode acontecer tudo de novo. Mas acho que não...Acho que será diferente, e espero que seja. Todos em volta de mim devem esperar... E poucos me dizem: "Vai nessa!"
Mas vou, vou nessa. Vou na minha, vou na telha, vou no que der vontade, abraçando meu destino e aceitando-o, acima de tudo.

sábado, março 14

I want you to leave before I finish this butterfly.

Pesa em mim a responsabilidade de pela primeira vez ter de te carregar
Ter de te amar como nunca, envolvê-la e sorrir dizendo:
- Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem.
Não sei fazê-lo, sempre fizeram comigo, para mim, por mim.
Aprendo!
Sozinha, te abraço e sei tudo ao redor, só eu e você.
Só eu sei, e só você sabe que eu sei, que apenas sei.

Nosso amor maior, de veia, de sangue, de mente
Se supera a cada suspiro, a cada dificuldade
Minha companheira de quarto, por que choras?
Reparo em seu vestido e penso:
"Ah...terei que lavá-lo mais uma vez."
Tirar de ti esse sal que lhe cobre toda.
Impedindo-a de me ver.
De olhar para mim e reparar que estou bem aqui.
Do seu lado.
Assim como você esteve do meu tantas vezes antes.

Aprendo sofrendo, você me ensina vivendo.
Vivemos vivendo juntas. Infinitesimalmente juntas.
Sinto vontade de fugir, de correr para bem longe.
Onde eu possa não ouvir sua voz e as mesmas reclamações,
as mesmas exclamações, e depois, os mesmos pedidos de desculpas.
Mas que fazer?
Te amo, e esse amor é uma corrente livre e espontânea,
e por ser espontânea, ela não se quebra,
funciona.
Assim como duas desejamos.

Seguro minhas emoções e lhe peço:
- Vou, porém ficarei.

terça-feira, março 10

Chuck Barris.

Tive uma idéia para um novo programa de auditório. Três velhos sentam em três cadeiras em uma mesma sala e recebem, cada um, uma arma e uma bala. Eles devem permanecer sentados pensando o quanto conquistaram em suas vidas. Vence quem não atirar em si mesmo.

O prêmio é uma geladeira.

domingo, março 1

Fragmento de uma lembrança # 8

Na última vez que fui parar no hospital, você estava lá... Lembro que quando entrou no quarto escuro você sussurrou: "baby?". Eu, semi-acordada, disse "oi", e abri um sorriso. Você se sentou ao meu lado na cama e passou os braços por mim. Me deu as flores que misteriosamente havia comprado às 3 da manhã e um cartaz que eu implorava por há uma semana. Abriu a mochila sobre meu colo e de dentro dela tirou um disc man e disse para eu abrí-lo. Estava ali o novo cd de uma de nossas bandas prediletas, eu ainda não o tinha e precisava ouví-lo. Meu sorriso cresceu mais ainda quando me deu um beijo. Você, então, tentou levantar meu braço para deitar mais próximo e viu a agulha que permitia a entrada do soro. Seus olhos foram claramente de quem não entendia o que se passava. Eu sorri e disse para não se preocupar. Completamente dopada dos outros remédios para dor eu dormi em seu peito. Mais tarde fomos acordados pela enfermeira que entrava para mudar o soro. Você não podia mais ficar ali, ordens do hospital, "apenas um acompanhante". Olhamos para minha mãe, que roncava na poltrona. Eu disse que no dia seguinte te ligaria.

Se eu não tivesse te ligado estaria eu sofrendo menos agora?
Seria eu mais feliz?
Não, não teria vivido. Não seria quem sou.

(Saudade de te fazer gozar apenas olhando para mim enquanto escovava meus dentes).

segunda-feira, fevereiro 23

Sentimento Oculto

Suas pintas. Suas pintas.
Desejava vê-las mais uma vez, elas ainda estão aí?
Em seu devido lugar.
Saudade das suas pintas...

sexta-feira, fevereiro 20

Um Porém Dois

Perdoe meus lábios
Busco um prazer infinito
E você está em minha frente

Sentir seu cheiro irá me levar de volta prá 'quela época?
Ver o mesmo programa
Sorrir das mesmas piadas
Abraçar as mesmas causas

Sinto uma dormência revolucionária em meu sangue
Do imenso que é viver
Abrir minhas companheiras pernas
E fazer com que você saiba
Vocês, vocês saibam
É só um, porém dois

"Mas lembrar-se com saudades é como se despedir de novo"

vontade de pôr reticências.

sábado, fevereiro 14

Cabra Cega

A mãe amarra um lenço amarelo em volta dos olhos da criança.
- Vamos brincar de cabra cega. – diz ela.
As duas saem de casa e descem, calmamente, seu caminho. Há pessoas em volta, o chão está molhado. A criança sente que está pisando em algo líquido e tenta tirar a venda. A mãe a impede.
- Mãe, não quero mais brincar. Não quero mais.
- Não minha filha, a gente ainda está brincando...
- Mas não quero mais.
A mãe deixa o laço mais apertado. A leoa segura sua cria com mãos fortes, respiração pesada, carregando o peso da visão no coração. Ela anda mais rápido, e a criança corre para conseguir acompanhá-la. Ela ouve pessoas em volta chorando, outras gritando. Ela também segura um choro. Não chora, pois sabe que a mãe brigaria com ela. Ela continua a sentir algo líquido, viscoso e quente em seus sapatos brancos. Vontade de tirar a venda. Ver o que se encontra em volta dela. Por que elas estavam brincando daquilo?
Quando sente que pararam de descer, ela se acalma. A mãe abaixa, lhe dá um abraço e retira sua venda. A luz do sol cega seus olhos, e com uma careta pergunta à mãe quem havia ganho a brincadeira.
- Você, é claro.
Sorri. Olha para seus sapatinhos brancos e percebe que eles mudaram de cor. Naquele dia, seus sapatos seriam vermelhos.

segunda-feira, fevereiro 9

Moça Com Brinco de Plástico (final)

- Minha buceta fala francês.
Bernardo incrédulo riu.
- Quel est donc ce lien entre nous, cette chose indéfinissable? Où vont ces destins qui se nouent, pour nous rendre inséparables ?
- Wow, nem eu sei falar francês direito! Tive que burlar meu currículo para ser aceito na empresa de advocacia que trabalho. Pode me dizer o que disse?
- O que é então essa ligação entre nós, essa coisa inexplicável? Aonde vão esses destinos que se amarram para nos deixar inseparáveis?
Ficou sem palavras.
Fizeram amor mais uma vez.


Era segunda-feira, o Homem do Fusca Vermelho apareceu novamente. Chamou por ela. Nós sabemos quem é ela.
Ela foi. No mesmo lugar da última vez fez a mesma coisa da última vez. Quando ela estava terminando ele pediu que ela o chupasse, ela disse:
- Não fui paga pra isso.
- Ah, vai. Te pago mais dez reais. Ou vinte.
Eram quatro horas da manhã, estava no fim do seu expediente, Ela só queria ir pra casa descansar, estava exausta, precisava deitar... Precisava comer melancia... Precisava...
- Acorda sua vaca! – gritava o Homem do Fusca Vermelho.
Aos poucos Ela abriu os olhos, seu rosto ardia.
- Não começa a passar mal no meu carro, não tenho nada a ver com isso. Puta fraca do caralho! Não sabe nem chupar um pau direito! Vai, sai daqui! Sai do meu carro!
Empurrou Ela pra fora e foi embora. Ela levantou e voltou pra Praça XV, apenas Marina estava lá.
- Que marcas são essas no seu rosto?
- Que? – Ah, por isso ardia.
- Você deixou te baterem?
- Eu... Eu desmaiei.
- Vamos pra casa.

- Estou grávida.
- O que?
- Grávida.
- Mas... E é meu?
- Tem que ser. Uso camisinha com os outros, você é o único que já aconteceu sem...
- Mas... Pode ter estourado.
- Acho bem difícil, eu sempre verifico quando eles jogam no chão da rua ao final de... Você sabe.
- O que faremos?
- Não sei... Não sei.
Ficaram em silêncio por um tempo.
- Quero ter esse bebê com você. – disse Bernardo.
- Eu também quero.


Quinta-feira, duas horas da madrugada, praça XV.
- Marina, vim só te avisar, eu estou indo.
- Mas agora?
- É.
Um fusca vermelho parou ali, chamou por ela. Sabemos quem é ela. Ela foi até lá e disse que não fazia mais aquilo.
- Puta não deixa de ser puta. Deixa de ser metida. Vem me dar essa bucetinha vem.
O cheiro de álcool vindo da boca dele era forte o suficiente para saber que estava elevado. Ela virou as costas, o homem urrou:
- Volta aqui agora sua puta! Eu to mandando! – levantou uma arma, de maneira que só ficava visível para Ela. Sem escolha, entrou no carro.
- Não faço mais nada disso, é sério. Parei.
- E vai viver como otária?
Foram no lugar de sempre. Lá, com a arma apontada para sua cabeça, ele a obrigou a fazer o mesmo de sempre. Ela negou. Não faria mais aquilo carregando seu futuro filho.
- Quer morrer então, é?! – Um tiro é ouvido do cais.
Uma fina linha de sangue escorreu passando pela Avenida Perimetral, entrando na Rua do Ouvidor, girando à esquerda na Primeiro de Março, chegou à Avenida Presidente Antônio Carlos, virou na Rua Santa Luzia, chegando finalmente à Avenida Rio Branco, quando parou na Cinelândia.
A maquiagem estava borrada, continuava com o corpo aparentemente usado do jeito que sempre fora. Um motor de fusca é ouvido do cais. Agora ia ficar tudo bem, os homens de branco estavam chegando.

Meu casulo de fumaça.

Lembro do cheiro daquela época. Um cheiro frio, triste, porém doce. Só ouvia aquela do cabelo para o alto. Me afogava e nadava por suas melodias e letras sobre relacionamentos que terminaram mal. Me identificava tanto com ela... Era a única que realmente me entendia. Ficava durante horas deitada em minha cama escrevendo poemas rimados em meu laptop enquanto ouvia (e sentia) o choro preso em sua voz, sentindo aquele cheiro... Cheiro de abandono, de toda a tristeza presente nas ruas e apartamentos me envolvendo. Algo incontrolável, odor assassino que se impregnava por minhas roupas. Ao estudar antigas matérias, vi páginas molhadas e letras ilegíveis. As páginas da minha vida se desfaziam em lágrimas e em poucos e raros abraços sinceros. Se alguém me dissesse que pulando de um prédio, ou bebendo tal drink, ou deixar de comer fosse melhorar o que eu estava sentindo, eu faria. E fiz. Desejava que minhas retinas impedissem o inevitável e que minhas pupilas dilatassem até doer. Queria meus cílios secos.

Tenho bebido essas lágrimas por tanto tempo, tudo que restou foi o gosto de sal em meus lábios.

quarta-feira, fevereiro 4

in the elevator

Eram quatro da manhã e ela estava entediada. Sua meia calça de girafas se encontrava rasgada, brincava com o rasgo. A tevê passava algo educativo a qual ela não se interessava. As garrafas a sua volta estavam todas vazias. Os papéis de alumínio jogados a um canto. Seus loiros cabelos encontravam-se bagunçados e oleosos, jogados em seu rosto.
Ela bate a porta do quarto e segue o corredor amarelo com carpete vermelho. Aperta o botão e aguarda o elevador. Entra. Ele sobe, suspira. Queria um cigarro.
O elevador se abre no décimo andar, e ali se encontra um garoto. Olhava para baixo, distraído. Sobe o olhar e se depara com ela, belamente arrasada. Ela esboça um sorriso, e os olhos azuis se fixam nela.
Silêncio.
- Ainda não te vi por aqui.
Ela o olha. Dá de ombros.
- Está hospedada há muito tempo?
- Talvez. - Ela morde os lábios.
- Sua meia está rasgada. Como aconteceu?
- Por que quer saber?
- Não precisa me contar, se não quiser.
Ela não fala nada. Suspira.
- Não lembro.
Ele levanta as sobrancelhas.
O elevador pára no quinto andar. Entra uma enorme mulher vestida toda de dourado e começa a puxar assunto em uma língua que nenhum dos dois reconhece. A estrangeira não pára de falar e ele apenas acena a cabeça. Nem isso ela faz, simplesmente a ignora. Será que seria tão difícil conseguir um cigarro?
A mulher diz algo que parece ser uma despedida e desce no segundo andar.
O garoto dos olhos azuis balança a cabeça e tira a franja de seu liso e escuro cabelo da frente de seus olhos.
Ele a olha.
Ela o olha.
Os dois encaram o chão.
Ela o olha.
Ele a olha.
O botão de emergência é apertado e os dois começam a se beijar. Ela segura com as duas mãos em seu pescoço e o acaricia. Ele desce com sua mão pelas costas magras. O abraço fica mais apertado. O botão do jeans da calça dele machuca o ventre dela. Ela, delicadamente, tira uma das mãos do pescoço dele e desabotoa o botão. Ele estremece. Ela levanta sua blusa verde e a tira com facilidade e rapidez. Ele faz o mesmo com sua blusa roxa. Os cordões dela causam uma certa dificuldade, mas ficam bem entre seu sutiã de bolinhas rosas e azuis. Ele a empurra contra a parede forrada por um papel de parede vermelho e levanta sua saia rodada amarela, ela se segura nele com suas pernas e abaixa o zíper. Ele a ajuda com a meia calça de girafas e em pouco tempo já está dentro dela. A devorando literalmente. Ela morde sua orelha enquanto respira profundamente em seus ouvidos. Ele segura com força suas finas pernas e se movimenta para cima e para baixo, algumas vezes mais rápido, outras mais lento. A respiração dos dois fica mais rápida e densa, a rapidez do movimento se acelera, a mão dela escorrega pelo corpo suado do outro, os dois se grudam por alguns segundos, sem movimento algum, simplesmente paralizados, sem respirarem. E então respiram, um profundo respiro. Se soltam calmamente e começam a se vestir, ainda respirando com dificuldade.
O botão de emergência é apertado novamente. O elevador se move.
Pára no térreo, os dois saem.

segunda-feira, fevereiro 2

Volta às aulas!

Fazia mágica com minhas mãos
A música psicodélica ao fundo só ajudava
Dando o empurrão que faltava
Pensava também num futuro presente:

em que ao descer a rua olharia sempre para trás
só para ver o sol ainda nascendo
e você, de braços abertos,
o recebendo com uma luz rosada
sua montanha se aquecerá
mas nesse momento já estarei sentada encarando o branco
talvez não tão cega quanto aqueles da cidade desconhecida tão conhecida...

E então se tornará uma rotina, pior do que qualquer outra
E chegará um momento em que talvez não olhe mais para você,
nem para o que o cobre
E nesse dia, estarei morta.
Como muitos já estão.

Minha vida se desfaz em páginas.

Todos os presentes estão preenchidos por certezas e incertezas. Transbordam com suas certezas, fazem um colchão, algo que protege do limo da pedra molhada. Pedra que respira. Como suas incertezas transpiram! O suor é a alma. Alma que todos escolhem adotar. Mas alma não se adota, nem se escolhe. Simplesmente se tem. E com ela se faz, se é.

Meus pés estão frios, tão frios que nem os sorrisos a minha volta conseguem esquentá-los. Gosto de sentir esse frio. Mostra que eles estão vivos, que me levam para todo lugar. Não desejo fogo para aquecê-los. Nem mãos para envolvê-los. Desejo mãos em meus cabelos. Que desenbaracem minhas incertezas. Meus vestidos já se encontram em cabides, porém as incertezas continuam aqui. Certas por serem incertas.

Fui ao inferno e trouxe essa camisa para você.

Hoje experimentei sentir tudo de novo. Um choro desesperado me alcançou como há muito não fazia. Lembranças com realidade fez machucado. Mas não sangrei literalmente. Nem me embebedei ou usei qualquer tipo de drogas. Apenas um cigarro serviu. Talvez um abraço dele ajudaria. É só um abraço, sabe? Um pedido de ajuda e conforto, algo acessível. Significaria muito mais do que um beijo. Não quero mais beijos dele.
Eu te conheço toda por te viver toda.


Que há entre nunca e sempre que os liga tão indiretamente e intimamente?

Oi, prazer.

Estava eu aguardando para receber meu humilde salário quando uma mulher ao lado puxou assunto. Tivemos uma conversa agradável e chegou a pergunta do que eu faria na faculdade. Disse que ainda não sabia, mas que estava pensando em cinema. A mulher, que me conhecia há apenas 10 minutos, disse que tinha mesmo a ver comigo. Eu ri e concordei. Olhei para como eu estava vestida. Um vestido tomara-que-caia curto e rodado rosa xadrez, sapatilhas roxas, bolsa de brechó e duas tatuagens.
Será que sou tão previsível assim?

terça-feira, janeiro 20

Futuro do pretérito.

Em um momento como esse,
Em um dia como esse,
Em um final de tarde que ameaça chover...

Eu estaria com você, provavelmente vestindo suas roupas que nunca ficavam por muito tempo em meu corpo. E quando chovesse mais forte, iríamos para a varanda. Sentaríamos e poríamos as nossas pernas para fora, não importávamos com nada, só com aquele pequeno momento de amor e afeto. Depois pegaríamos toalhas, um secaria o outro delicadamente e faríamos amor, ou veríamos algum filme comendo comida chinesa,
ou ambos.

Fragmento de uma lembrança # 7

Você andava com um Macunaíma no bolso do seu jeans nessa época. Elogiou meu cabelo enquanto fechava o livro e disse que me amava. Sorri, e naquele momento vi que queria passar o resto da minha vida ao seu lado.

Parece que foi ontem que eu carregava o meu próprio peso.
Você cantava amor para mim.

quarta-feira, janeiro 14

Fragmento de uma lembrança # 6


Estava usando o meu vestido verde que agora só uso para a praia. Tocava Adeus Você e eu esperava que a música terminasse antes que você tocasse a campainha. Me perguntava se o meu novo corte de cabelo seria bom para o momento, ou ruim. Quatro dias sem nos falarmos, o nosso 'tempo' não conseguiu durar mais do que isso.
A porta se abriu:

- Você tá linda.

"- um tantão assim?"

Não sei o que é,
sei que acontece.

No meio da minha noite, dos meus amigos, do meu sorriso
Vejo que você não está lá
Finjo que você é o outro, que disse que ia mas não foi
Ou que disse que ia mas não falou comigo
Apenas finjo.

Você é a pessoa que me deixa triste
É a pessoa que me proporciona sorrisos desesperados
Desespero por lembrar de uma época
Uma outra época

Você é aquele que me faz me auto-destruir
Você é aquele que me fez bem
porém mal
Você é aquele que está longe
e que assim permanecerá
Você é aquele da foto
Você é aquele que amei
e que estranhamente ainda amo
Aindo sangro,
literalmente
Mas só de vez em quando (literalmente)
Mas só todos os dias (metaforicamente, ultimamente)

Você é aquele que não está ao meu alcance
e,
por isso,
me perco.

sábado, janeiro 10

Foi o vestido. Sei que foi.

last time I saw me I was sitting backstage with a perfect dress, a perfect mess.

Moça Com Brinco de Plástico (Parte 4)

Era sexta-feira, dia de fazer bolo, caso houvesse os ingredientes.
- Guarda isso que eu to te falando Ela: bater bolo, lavar roupa à mão, carregar peso, subir e descer escada e ainda trabalhar durante a noite toda... Isso é academia de pobre!
- É, mas você está me saindo classe alta, hein?
- Há, mas você sabe, eu já te disse que a sensação de descer é sempre melhor que a de subir, seja de carro, a pé, na montanha russa, a não ser subir de classe social!
- Esse é seu lema de vida, Marina.
As duas passaram à tarde de sexta fazendo bolo e se divertindo da maneira mais possível que duas pessoas pobres têm de se divertir.
Elas ainda teriam que trabalhar naquela noite. Não, elas não tinham folga. Só quando se davam o luxo de folgarem quando quiserem, não tinham cafetão, ninguém mandava nelas nem pedia metade do dinheiro conquistado. Mas elas sabiam que não podiam matar um dia do trabalho, se não, não teriam dinheiro pra comer. Disso, elas sabiam muito bem.


- Me dá um beijo.
Ela foi pra frente e deu um beijo vazio em sua boca.
- Te pedi um beijo e você me deu meio. – disse Bernardo.
Ela foi pra frente e deu um beijo cheio em sua boca.


- Quando você vai mostrar sua casa?
- Por que faria isso?
- Ah, eu gostaria de conhecer, acho que o que estamos tendo aqui não é mais uma questão de apenas clientela. Faz um tempo que não te pago para fazer o que faz e você não reclama. Ou não pensa como eu?
- Não sei o que penso.
- Eu acho que te amo.
Ela não respondeu, simplesmente disse:
- Vira na 13 de Maio e pega a Evaristo da Veiga, moro na Cinelândia.
Ele o fez.
Entraram em sua casa, em oito passos estavam em sua cama, hoje a canga era amarela com almofadas azuis e vermelhas por cima. A parede pintada de vermelho descascava. Um balde no canto esquerdo do quarto denunciava uma goteira.
A partir daquele dia, começaram a fazer amor.
- Só acredito num amor como o de Florentino Ariza e Fermina Daza, que não desiste. – anunciou Ela.
Eles se encontravam cobertos pela canga amarela, ela, com o peito esquerdo de fora. Fazia 15 graus no Rio de Janeiro.
- Isso é García Márquez. Conhece o escritor?
- Conheço.
- Como... ?
- Já devia saber que não sou qualquer puta. Sei tanto quanto é 10 vezes 100 como também conheço os livros de García Márquez.
- É, eu sei. Mas ainda sim levei surpresa. Sabe... Eu não costumava pagar para transar. Você foi minha primeira. Então sempre tive esse pré conceito sobre prostitutas, que todas são analfabetas e que só se interessam por dinheiro.
- Sou diferente.
- Percebi. Mas então, não vai me contar onde conheceu Márquez?
- Herança da minha mãe. Ela amava Gabriel García Márquez.
- Uau, nem minha mãe me deixou livros dele, tive que aprender sozinho.
- Minha mãe era única. Gostava muito de mim. Até que começou a odiar a todos. Enlouqueceu, seus últimos dez anos de vida foram assim, odiando a todos.
O silêncio perdurou na sala. Bernardo não sabia o que dizer, e Ela estava muito perdida em antigas lembranças, até que novamente, quebrou o silêncio:
- O ser humano ama às pressas, mas odeia devagar.
- Márquez também?
- Fonseca.
- Rubem?
- É, gosto dele, pois é simples e fala da gente.
- Da gente quem?
- Da gente: pessoas, amantes, putas.
- Herança de quem esse?
- Da vontade de ler que minha mãe me deixou. Conheci por aí. Já o citei antes pra você. O homem tergiversante... Lembra?
Bernardo estava sorrindo, não acreditava na mulher que tinha a seu lado.
Fizeram amor mais uma vez.

Moça Com Brinco de Plástico (Parte 3)

- Dormiu bem hoje?
Ela olhou para Marina, a amiga que dividia a casa, caso ainda não a tenha apresentado.
- Acordei no meio da noite com você segurando meu dedo indicador com tanta força, - disse Marina – ia te acordar, mas preferi não o fazer. Estava sonhando com ele de novo não é?
Ela assentiu.
- Por quê? O que te fez lembrar dele? Estava tão melhor desses pesadelos.
- O nome dele é Bernardo.
- Eu sei Ela...
- Não! O nome do cara de ontem e anteontem!
- Ah... – levantou da mesa e foi ao encontro da amiga, abraçou-a o mais forte que podia. – Quer saber, tive uma idéia. Vamos ficar em casa assistindo filme na televisão o dia todo. Que tal?
- Pode ser.
- E se quiser, podemos não ir trabalhar hoje. Podíamos ficar em casa e cozinhar algo.
- Não, temos que trabalhar, se o deixarmos de fazer isso poderá se tornar uma rotina. Nós precisamos disso, você sabe. Precisamos desse dinheiro mais do que qualquer outra coisa.
Marina concordou e foram para a cama assistir tevê. Naquele dia não passou nenhum filme envolvendo mães incapacitadas sem dinheiro e bebês morrendo num hospital frio.


Ela não queria entrar naquele carro de novo. Não podia, não agüentaria passar mais uma noite ao lado daquele homem. Por mais incrível que ele pudesse ser, Ela sabia que não seria bom. Seria só sexo e nada mais. Mas também, era isso que devia ser, apenas sexo, era seu trabalho. Nada mais do que isso, Ela sabia que não podia pensar nada mais do que isso. Estranho ele querer dois dias seguidos a mesma pessoa, vai ver ele foi com sua cara, ou com suas pernas.
Estava na Avenida Presidente Antônio Carlos, passou pela Avenida Erasmo Braga, Rua São José, Rua da Assembléia e finalmente chegou à Praça XV.
Cumprimentou as amigas, passou um fusca vermelho e chamou por Ela.
- Quantos anos você tem? – perguntou o motorista ainda oculto pela sombra e fumaça do cigarro vinda do carro.
- O suficiente.
O Homem do Fusca Vermelho esboçou um sorriso e deixou que ela entrasse.
Viraram na Primeiro de Março e depois entraram na rua do Ouvidor para chegarem à Avenida Perimetral e finalmente ao Cais do Porto.
De vista para o mar azul escuro com o vento da madrugada batendo no vidro da janela, Ela dava uma rapidinha para o Homem do Fusca Vermelho. Ela não pensava no que fazia, Ela não pensava no homem que estava em sua frente e muito menos na cor do fusca, Ela pensava no seu amor, que provavelmente, nesse momento, estava passando na Praça XV em um Picasso prata.
- Ela! Que bom que você voltou! Quanto é 10 vezes 100? – perguntou Marina.
- 1000. É só acrescentar o número de zeros que você ta multiplicando.
- Ah é, brigada.
- Por quê?
- Foi o que acumulei no mês. Estou indo bem, não?
- Com certeza. Então... Alguém passou por aqui me procurando?
- Você quer dizer o do Picasso? Não, ele não passou aqui.
Ela não sabia se estava aliviada ou decepcionada. Não sabia o que sentir quiçá falar para a amiga, ali pedindo uma explicação da dúvida.
- Não é nada, só para saber mesmo. – explicou Ela.

teia.

- Está chovendo aqui dentro.
- Então fecha a janela, por favor.
Mas não queria me mexer. Minhas mãos estavam muito bem posicionadas. Fiquei a observar os pingos de chuva caindo no chão de madeira.
E pensei: se eu levantar, me sentirei melhor em fazer o certo? É o certo só porque ela disse? Só por eu saber as conseqüências ruins? Um chão manchado. Acho que obedecemos ordens demais...
Levantei e fechei a janela.

Fragmento de uma lembrança # 5

Lembro de sua respiração ofegante, seus joelhos sangravam. A única coisa que você dizia era "Fala comigo". E repetia, e repetia. Fala comigo. Eu olhava para baixo. Te amava, mas não conseguia dizê-lo em voz alta, não podia. Você chorava, estava desesperado, nunca o vira assim. Se eu quisesse poderia ter terminado com tudo aquilo ali. Você estava tão frágil... Mas foi visto que eu sou a mais frágil da relação. Como era tudo novo, nunca me impus como deveria.
Cuidei do seu ferimento, porém queria que sangrasse até morrer. Mas você fez um bom trabalho, cuidou do meu por um tempo. Realmente cuidou. Mas não foi o suficiente, e no final só provou que eu estava certa. A dor da falta de confiança permanece em mim, e nunca sairá. Eu não queria estar certa. Por quê? Fala comigo. Pra quê? Fala comigo.

domingo, janeiro 4

love is blind.

Ficou aqui dentro,
e não consegui segurar,
de que adiantou?

Nada, continua aqui. Só que de maneira pior.

Mas eu estava pensando em você, quando gozei.

Para ler ouvindo Spin the Context, de Anja Garbarek.

Um copo se quebra.
Clara sente o vento balançando seus negros, antes loiros, cabelos. Ela olha para baixo, se depara com o estrago. Se deita no chão de madeira, e cata os cacos maiores, os pondo dentro do resto do copo. Como em uma luta, Clara tenta sair vencedora da guerra com seus dedos e os cacos. Ela tenta achar uma maneira mais confortável deles ficarem dentro do copo. Clara não sabe porque faz isso, simplesmente faz. Acha que será melhor. E faz. Mas percebe, mesmo sem sentir, que por mais confortável que fique, por mais vitoriosa que ela saia, sempre terá seus dedos cortados, e os cortes se estendem...
Quando a primeira gota cai ao chão, pessoas em volta se assustam, como se fosse possível ouvir um alto ruído. O ruído do sangue batendo ao chão. Como se fosse um pedaço de cada alma ali presente.
Clara treme. Com o canto do olho tenta procurar, porém não acha.

(se você leu não ouvindo a música dita no título, você não realmente leu).

sábado, janeiro 3

tolice (des)humana.

como fui tola!
tentar forçar um desejo...
é quase tão impossível quanto forçar um não-amor.
sempre fui contra e pisei em quem dizia o contrário
acabei caindo em minha própria armadilha.
Será possível me pisar?

Deixa a criatividade para mais tarde.

nunca demoro mais de uma hora para escrever um poema,
escrevo o que vem em minha mente, o que sinto
e se não souber passar tais sentimentos para palavra simplesmente não escrevo
eles ficam aqui dentro,
formando um ninho,
tecendo uma teia,
esperando o ovo descascar,
e se libertam de estranhas diferentes maneiras.

Grito,
choro,
sorrisos,
abraços,
cortes,
goles,
tragos,
respiração profunda
profundamente pesada,
meus olhos não aguentam nem ouvir Anja Garbarek

mas nunca passarei mais de uma hora a escrever algo por ter dificuldades.
se não é para sair, não sai. Não agora.

quinta-feira, janeiro 1

água de coco com vodka.
é como pegar um pedacinho da sua infância e corrompê-lo.

obrigada, Nina.

Sem brioches, por favor.

Acordei em um novo ano:
sentimento de vazio, de algo que não foi feito.

Três maços de cigarro deixados para trás,
Tênis na varanda,
Meias perdidas,
Restos de vidro quebrado ao chão,
O aparelho de som ainda ligado,
O ventilador também fora esquecido,
Restos de pegadas da noite anterior,

Comi o que vi, deitei, filme, levantei:

Velvet Underground tocando na minha própria The Factory,
A louça foi lavada,
A comida foi esquentada,
Meu cansaço foi renovado

Pronta para a próxima noite,
Para os próximos beijos e abraços,
Para os próximos sorrisos amigos,
Para os próximos experimentos,
(que venham)
sem brioches, por favor.

O Processo.

ah não...
aí vem de novo..
aquele sentimento fraco
de fraqueza
franqueza
francamente, nem estava em minha mente
que você me trataria assim,
a me observar a noite inteira,
sem nenhuma palavra que realmente fizesse sentido

grande coisa!
continuo com os dedos cortados e sangrando,
minha alma continua a se despedaçar
tentando se desenbaraçar
o que só a embaraça mais

sinto que estou mais uma vez perdida
não em você, no seu antigo você
nem no seu novo, claro que não

Não sei, claro que não sei.
Posso chutar, tentar adivinhar,
mas não acertar.
Acho que é algo que não é para se saber,
que fique na dúvida.

Mas algo tenho que fazer,
alguma decisão precisa ser tomada
Antes que o processo de auto-destruição comece de novo
Antes que o processo de auto-improvisação
Antes que o processo de auto-flagelação
Antes que o processo de auto-fertilização
Antes que o processo de auto-'masoquisteismo'
Antes que você perceba
Antes que você me veja
como realmente sou,
numa moldura clara, simples, sem sombras
Assim como pareço ser agora,
nua.