quinta-feira, abril 7

anômico

andré
o menino de barba multicor
pisa o chão com
suas botas usando todo
o peso dos seus ombros
no pescoço
o fardo que não consegue se livrar
corcunda corcunda
a mercê do amor
ah, coisa linda!

texto vivo

Os dias se repetem. pessoas diferentes porém sempre iguais o preenchem de formas diferentes porém sempre iguais. quando só na cama para não dormir. tudo se repete mais uma vez. a leitura infinita, o caderno ao lado, livros de fotografia, a vista, a música nos ouvidos, o colorido do quarto contrastando com o preto do lençol.
Quero aprender a desenhar mais do que letras em papel. ora pois! veja bem, ao desenhar letras estamos naturalmente desenhando mais do que apenas traços. desenhamos mensagens.
quando deixamos os livros na horizontal, empilhados, as letras grudam? ou ficam como carlos (andradeandrade) diz? em estado de dicionário, adormecidas.

sexta-feira, março 11

INT - CORREDOR - ELA e O VAMPIRO DE DÜSSELDORF

Como previsto. Não tardaria a acontecer. Eles se encontrariam.
Ela saía de uma aula, ele também. Andavam em direções opostas, ainda era cedo. Corredor vazio. Ela sorriu sem mostrar os dentes. Triunfante, seus olhos a entregavam. Ele, sem poder entrar em sala alguma para fugir, percebeu que ela já o encarava. Fez muito bem o olhar de sempre. Sem sorrir nada, as bochechas rosadas, o cabelo indecifrável, olhos pequenos.
Um beijo.

rouch

com fuzis de madeira e chicotes feitos das correias dos ventiladores dos caminhões, eles continuam em movimentos raivosos. a espuma branca escorrendo pelo queixo, depois substituída pelo sangue do cachorro, me afasta.
mas como me afastar se mesmo com a voz em off me sinto tão ali? o único jeito é fechar os olhos, tampar os ouvidos e cantarolar a última música que ouvi antes dos tambores.

(masfecharosolhosécrime)
mas é crime

terça-feira, março 1

vitória, jamais

a gente até esquece
o copo cheio
saliva saliva saliva
de conversa e de beijo
e até de olhar
(lacrimejandolacrimejando)

que se faz com um casal apaixonado?
nada
não se faz absolutamente nada
deixemos que se percam e se
achem nos (en)cantos um
do outro

domingo, fevereiro 20

borboleteamento (de dispersão, girando em torno, mas muitas vezes de longe) #2

O cigarro se apoia na xícara do café que bebeu pela manhã. Só para passar o tempo, pensa, enquanto sente tanta coisa ao mesmo tempo. Ao lado dos vasos, tenta não soprar fumaça nas plantas, mas que fazer se elas estão em todas as janelas?
Respira fundo.
Quem será minha Chantal e quem será meu Jean-Marc?

Enfim, sós.
Eu e você em frente ao quadro azul. Sentados no sofá brincando de descrever as coisas a minha volta.
Depois de pulsos carimbados, viagens para outra zona e dois chocotones;
Hora de ler gibi.

"hoje vamos abrir a caixa de pandora"

Perdidos no emaranhado de tiras de asfalto quando finalmente no destino: grama, árvores, pessoas. Sorrio em cores e nada impede meu dedo de repetir o mesmo movimento. Só as pálpebras impedindo em curto espaço de tempo o contato com os outros. Seus olhos funcionam como cortes em um filme. Quando fecha a geladeira, vê em close todos os detalhes da porta branca e velha e das unhas sujas. O gosto amargo embaixo da língua.
Que venha.
Minha aventura é abraçar o mundo.

"como se pode detestar e ao mesmo tempo se adaptar tão facilmente àquilo que se detesta?"

Fico quieta no sofá, me deliciando com as palavras de Milan e observando as mulheres da casa. O olho acompanha ora as palavras impressas ora as ditas.
São pessoas mimadas e que se irritam facilmente. Pensando melhor, todas as pessoas mimadas se irritam facilmente. Podem ser ótimas, mas só aproveita-se parte delas. Elas mesmas só aproveitam parte de si mesmas e do mundo.
Acho triste. Falta amor que transborde pela pele e pelo sorriso.
Sempre emburradas, as rugas e dores de cabeça estão sempre dando o ar de sua presença. Um ar sufocante e denso.
Na maioria das vezes, pro(e)ferem palavras que nada dizem, se vêem confrontadas pelo tempo e tudo que criam se transforma em (nadamenosdoque) resmungos.

quarta-feira, fevereiro 2

nunca só

quando com você
para escrever

depois de desencantos
corro entre esse canto
de ser quem eu sou
na cabeça de outro
que é
simplesmente
diferente

as linhas não são companhia
o grafite que as torna sustentável
por vezes agradável
outras
insuportável

eu mesma me canso
de mim

e as letras se tornam
repugnantes
como amantes que já
não se amam
e nada resta
que não
separação

a ponta quebra
e tudo se acaba

sexta-feira, janeiro 28

poltronas de pedra

Ajeita os pêlos da sobrancelha com a ponta de borracha do lápis que escreve.
Entre goles de vinho, água e letras, segue gastando o tempo acordada, porque dormira demais naquela noite e ainda tem sono.
São diversas alternativas e a imensidão se baseia nisso.
Na diversidade impossível de ser definida em uma só.
Não sabe aonde vai muito menos o que dizer.
Dar uma fugidinha não faz mal.
A distância ajuda no clarear dos pensamentos.
No saber dizer sobre os sentimentos.
Talvez viajar.
Ou simplesmente repor o sono perdido.
Babar por sete dias.

Essa imensidão e o que fazer com ela.

quinta-feira, janeiro 20

andarilhos

puxa pelo braço e leva para a sala de piso convidativo. Rodin na mão e alma no coração. Sopra tinta na minha orelha e tudo ficará bem. A sua palavra é 'serelepe' (semoladoinfantil), embora adoraria, aposto, que fosse 'excêntrico'
estão todos aqui mas tão dentro de si que já não sei. Parece que estou só na sala. Mas eu também dentro de mim. Ai de mim flutuar
como sempre, andando para lá e para cá. Quase nunca cá, um pouco (sempre) mais para lá. Percebo presença quando me falta ar. O individualismo nutre meu egoísmo como uma desculpa, como se dissesse qual o problema?
Beethoven é o problema.

de manhã, passando os dedos pelos contornos do rosto

e quando (finalmenteporémcontraodesejo) fui embora, meus olhos reclamaram por não ter mais você em minha frente. ficaram vermelhos implorando por mais.
gosto de você porque me vejo refletida em seus olhos
e não há mal nenhum nisso

domingo, janeiro 9

entre por favor

as cores perdem o nome
tudo é maleável
(menos eu)
inclusive        sempre

andanças no mato com
cheiro de infância
cavalo vermelho relincha e
risos altos e confortáveis dão
vontade de abraçar

como se abraça um sorriso?
acho que só dando outro

deitada com papel picado
gosma rosa na mão
a saliva acaba
todas as palavras estão
sendo usadas

não sei o seu cheiro e não
consigo nem te beijar porque
temos muito a dizer

não resisto aos finos pulsos
dedos de músico
pintas do rosto ao pescoço
parece que foi ontem

sobre oito rodas

já na porta
um aviso de não entre:
"não fume
fé em Deus"

entrei mesmo assim
mesmo que mofasse na
companhia das árvores dentro do
saco de dormir

a mulher ao lado sorrindo o tempo
inteiro não sem oferecer mentos
(oproblemaéquetodaseramrosase
minhaprediletaéaamarela)

calamares em gangorras










o mar foi dormir
o mar não dorme
disse Zilá

Zilá
que tem nome de flor
não fala
exala

me ensina desse mar que
eu te ensino três acordes

Zilá e o cavalo
se aproximam e
pergunta se ele quer dar
uma volta
afagam os cabelos compridos um do outro

sua árvore suplica
as lágrimas grudam no chão
fico colada embaixo
um ritual obrigatório

domingo, janeiro 2

em cada (a)braço

parecei que foi ontem eu
dei adeus até logo ao barulho da
máquina
agora meu negócio é com o
vento
o charme endiabrado da
natureza me faz sentir em
casa
Era a época das borboletas amarelas e qualquer música que eu começasse a cantar você sorria e fazia sons engraçados para eu nunca sair do ritmo, o problema é que eu perdia o tom. Elas pousavam em nossos ombros sem pedir permissão, o susto inicial logo se transformava em leveza. A grama alta engolia nossos (feios) dedos dos pés (só os feios). As formigas desviavam das nossas pintas até chegarem ao pescoço (só para 'sentir' o cheiro) Eu dizia céu, você, horizonte. Os helicópteros, pássaros. Sol com vento fresco é melhor do que arco-íris.