terça-feira, junho 22

ai de mim, de nós dois

aquela madrugada deu em nada deu em tudo deu em sol

domingo, junho 20

como nunca olhei amélia, você nunca me olhou de volta

apoio todas minhas esperanças de te ver
de novo em anaïs:
o cinzeiro, as palavras, a voz
você
sinto sua falta
mas
rimas nunca foram soluções
por que tantas risadas
quando meu rosto estampa saudade?
e esses segundos empilhados
nunca tempo ler

desculpa

Oi, me atrasei, resolvi colocar tudo em ordem alfabética. Sei lá, deu vontade. Desde que deixei de ser dona de casa. Há duas semanas atrás a idiota da faxineira tirou da ordem. Convivi com isso por duas semanas porque estive bem ocupada. E talvez também por já em cima ter novas pilhas, sempre novas. E uma confusão só de letras. Ah, agora sim... O homem de óculos engraçados me olha de um jeito. E incríveis são as pontas todas coloridas de lápis de cera enfileiradas. Com a luz do globo formam sombras afiadas.

quarta-feira, junho 16

sentada no segredo

" Vou participar de um teatro de fantoches, ganhar 800 real pra quatro dias de apresentação. Olha que lindo"
" Você vai pôr uma luvinha e falar como criança?"
"Não, eu vou pôr um boneco e falar como criança. Porque meu papel é de menino."

ironia ou não.

sufoco, sufoco o segredo
não o deixando me contar
pulo em cima dele e digo:
fala, peludo!

quando o marcelo visita

     "Cara, eu fiquei em são paulo por 3 dias em um prédio que o elevador er(r)a assim: 11...12...14. Eles não botaram o décimo terceiro andar."
    "Que isso. Era um prédio antigo?"
    " Novo, cara."
    "Que isso..."
    A tevê faz ruídos. Não os decifro.

    "Aí, quer um batom?"

ali, ao lado do cinema

     Sentia o peso em suas panturrilhas enquanto encarava o chão meio tridimensional, pensou ela, cubos vistos de cima.Depois de tentar equilibrar o papel na montanha quatro vezes, na quinta cedeu, resolvendo permanecer no topo.
     Corredor apertado. Espera a vez de molhar as mãos. O da frente olha de soslaio e diz um assustado:
     "Boa noite!"
     "Boa noite", responde.
     "Me deu um susto."
     Ri. Lava as mãos e volta para a mesa. A outra, a do chapéu, levanta e vai em direção ao corredor estreito. A que ficou acende um cigarro e aguarda.
     "Boa noite."
     Sabia, pensa ela, esses conquistadores estão por toda parte.
     Depois de um posso me juntar e a fajuta desculpa do amigo que segundos depois aparece pedindo fogo. Dar uma chance dar uma chance dar uma chance.
     A próxima hora as duas passaram ouvindo sobre Paris e música. Deram poucas palavras, completando aqui e ali. Ah, até que são legais. E quando viu era meia noite.
     Começou a, responsavelmente, pensar na manhã seguinte que chegaria. A fábrica começaria a buzinar, era dia de jogo.
     "O amanhã chega hoje."
     E se despediram. Elas, cada uma dando o telefone para um. Não pediram os deles. E só na manhã seguinte, enquanto o trânsito contornava a sua cama, percebeu: aquela dupla de sambistas não ouviu uma sequer palavra de nossas bocas. O cantor só encarou a do chapéu, falava olhando diretamente para ela e, como era o que mais falava me fez sentir só. Só pegou o telefone dela. E o do pandeiro somente o meu.
     Ela, que sempre fugiu de obviedades, achou/os previsíveis. Olhou para o violão com lenço no pescoço e decidiu tomar uma segunda xícara de café.
     Não pode me fazer mal, pensou.

quinta-feira, junho 10

no recreio

"sabia que a gente devia ter trago o matte."
"é. sei como você se sente."
"acho que vou optar pelo chiclete"
"pode ficar com gosto estranho..."
"vou arriscar. quer também?"
"quero."
"vou de canela. você não gosta, né? tem de melancia, também. você prefere de melancia ou o do piupiu?"

moça de franja com gola alta

caldinho de feijão com cachaça pela
manhã
passeio de fusca, no estribo, pela
tarde
lã e vinho pela
noite
afago na sofia
pilar com ciúmes
guga ainda mais
quando de
manhã
de novo sol no rosto branco
pés descalços na grama fofa
cliques e suspiros
os flocos de poeira quando iluminados pelo sol,
dançam
o cheiro daqui
sempre irresistível

*alto aqui do sexto andar

como ousa olhar para cima?
a janela sempre foi
e sempre seria
meu esconderijo

não imagino o que passou
pela sua cabeça
"será que a verei ao olhar?"
"será que vejo o armário desenhado?"
"será que a luz ainda está acesa?"
"será que é mesmo virado para cá?"

de todo modo,
estava camaleoa no meu
esconderijo e você
simplesmente
me encarou