sábado, março 28

Nicotina: 0,6 mg

As pernas dela, depiladas. As dele, indecisas.

O sentimento esfarelado na poeira que o vento arrastava para as grades do esgoto.

A fidelidade ao sentimento amoroso é a condição existencial.

quarta-feira, março 25

Ninfas do Bosque

Com o rosto para fora da janela
sinto o vento, e o cheiro..
A mata me envolve por repleto
Enquanto a ópera me preenche por completo

Todas as paredes repletas de era
Um velho portão guarda um secreto jardim

Correndo atrás do sol,
e o sol nos alcança
ou a gente alcança o sol?

Choro preso no peito,
orquestra pulsando lágrima,
escavadeira em mão de atista faz cócegas,
enquanto que as palavras perfuram os órgãos
não deixando nada além

da saudade.

Cabides

Vou arrancar sua blusa, botar no cabide, só para pendurar.
Se eu disser que não ligo, não te vivo, vou estar mentindo?
E se eu disser que amo, sempre amei e sempre amarei, estarei falando a verdade?
Há! Novidade...

sábado, março 21

Vou procurando por algo assim..

e crio casos em cada esquina
isso me cansa
acho que o amor não se cria

vivo em busca de uma maquete humana,
que preencha os espaços
tal coisa não existe
tola! tola!

me espelhei em você quando sorri
brinquei com a ponta do meu vestido
fiquei vesga para ver a estampa dançar

e num passo,
caí.

quarta-feira, março 18

Para ler ouvindo Libertango, de Yo Yo Ma.

Ela desce correndo as escadas, abre a porta e se joga fora no mundo.
Corre desesperada pelas ruas, em busca de seu grande amor. Corre, corre, corre.
Não entende como pode tê-lo perdido. Sua maior admiração, sua razão de vida. Como podem as pessoas perderem seu grande amor? É algo que não se perde, não é chave, não é senha, não é moeda de cinco centavos, nem de cinquenta. É algo enorme, que não cabe no bolso, que não se pode enterrar, que não se pode esquecer, que não cai no bueiro, que não se ignora ao passar em frente, que tem cheiro, que tem cor. Simplesmente não se perde.
Seu roupão está desamarrando, ela não se importa. Precisa achá-lo. Como pôde deixá-lo escapar?
O sinal fecha, e ao longe ela o vê, no meio da linha de pedestre, alcança-o.
Se ajoelha e chora, abraça-o e chora.
Naquele momento ela soube que nunca mais o perderia de vista.
Põe a coleira e volta antes que a luz verde se acendesse.

Hoje

Raiva; sentimento sadio, contanto que não seja destrutivo.

Sinto-me esmagada por tudo a minha volta.
Sinto-me presa.
Um presa diferente, tão diferente.
Simplesmente sufocada.
Não estou morrendo, mas está doendo.
Falta de ar.
Raiva, raiva da vizinha de cima que se incomoda pelos meus costumes.
Raiva da limitação dos amigos.
Raiva do sentimento que aos poucos volta.
Raiva do sentimento que sempre vai embora.
Raiva do choro preso no peito.
Raiva do pó, sempre presente.
Raiva dela, me cobrando a todo minuto.
Raiva da prova de física, que estragou o meu dia.
Raiva da depiladora, porque não tenho dinheiro.
Raiva da minha cachorra, que implora por sair.
Raiva do colégio, aquele sistema igual todos os dias, todos os dias, todos os dias.
Raiva da comida, que não me satisfaz como satisfazia.
Raiva das pessoas que acham que me entendem.
Raiva das pessoas que não me entendem.
Raiva de você.
Raiva de mim.
Raiva.

segunda-feira, março 16

Mais Uma Canção.

Entendi que sou para você o que você é para mim.
Não tinha idéia, e me fez bem ouvir.
Sendo verdade, sendo mentira.
Gostei de "ser"!

Fragmento de uma lembrança um pouco mais recente #9

No fundo eu sabia que você estaria lá, de alguma forma você iria.
Ainda assim restava dúvidas, nunca fui cem por cento certa de mim mesma.
E aí você aparaceu! Sujo, mal vestido, lindo.
Confesso que continuei com dúvida, minha insegurança sempre me domina nesses momentos, acredito que por medo de me machucar, sempre, não só com você.
Conversamos, mas não tanto, e isso me incomodou.
Porém, a noite foi caindo, e ao final dela você estava grudado ao meu lado, vidrado.

Você devia andar para o outro lado, mas foi me seguindo, aos poucos, do sei jeito sem se notar.
- Você não mora para lá?
- Moro?
- Ta... Você não vai para lá?
- Não sei...Vou?
Chegou mais perto e me beijou. Fomos parar na grade, e mais beijo. B-e-i-j-o. Palavra bonita, dá poesia, dá música, dá sorriso, dá frio na barriga, dá amor, dá paixão, dá ciúmes, dá palavrão, dá tesão, dá você e eu.
- Sabia que isso não teria mudado...
Eu sei, eu sei...Você é aquele típico galã, que envolve as pobres moças pelo coração e lhes diz coisas lindas, conhecidas, reconhecidas, e lindas e as põe em sua mão. Acredito em uma ou outra coisa que você me disse, o que já foi surpresa o suficiente.
Atuei em todo momento na defensiva, mesmo por dentro estar pegando fogo. Nada me fez dizer não. E te amei em cada movimento, estranhei também, muito. Foi uma lembrança viva. Uma cena imaginada tantas vezes... Realizada.
Achei que você iria fugir do óbvio, não comentar nada do passado, fingir que não existia. Mas é claro que não, você é diferente! Você é diferente sendo óbvio! Você brinca com as palavras e com os sentimentos. Confesso que gostei, não me fez chorar, me fez sorrir, e lembrar dos velhos tempos.
O dia seguinte foi mais estranho ainda. Foi um dia como os de antigamente. Ficar de bobeira em casa, com uma meia só no pé, deixando-a cair da cama, conversar com minha mãe durante horas e depois pegar o jornal para ir ao cinema. Ato perigoso! Aí foi demais para mim. Até queria ir... Mas seria demais, não sei se me faria sofrer mas seria altamenteíssimo estranho. Quem sabe outro dia.
Sei que passei a manhã pensando de vez em quando. E estava bem, minha mãe preocupada, mas estava bem. Sem choro, sem desespero, sem saudade, sem amor, aquele amor... Nada.
Talvez eu esteja pronta para isso, talvez não. Ao subir as escadas me deparei pensando:
"Não volte àquilo, não volte àquilo". Aquele meu estado morto. Estado zumbi que me movimentava por apenas lembrar que ainda estava viva. Sim, pode acontecer tudo de novo. Mas acho que não...Acho que será diferente, e espero que seja. Todos em volta de mim devem esperar... E poucos me dizem: "Vai nessa!"
Mas vou, vou nessa. Vou na minha, vou na telha, vou no que der vontade, abraçando meu destino e aceitando-o, acima de tudo.

sábado, março 14

I want you to leave before I finish this butterfly.

Pesa em mim a responsabilidade de pela primeira vez ter de te carregar
Ter de te amar como nunca, envolvê-la e sorrir dizendo:
- Vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem.
Não sei fazê-lo, sempre fizeram comigo, para mim, por mim.
Aprendo!
Sozinha, te abraço e sei tudo ao redor, só eu e você.
Só eu sei, e só você sabe que eu sei, que apenas sei.

Nosso amor maior, de veia, de sangue, de mente
Se supera a cada suspiro, a cada dificuldade
Minha companheira de quarto, por que choras?
Reparo em seu vestido e penso:
"Ah...terei que lavá-lo mais uma vez."
Tirar de ti esse sal que lhe cobre toda.
Impedindo-a de me ver.
De olhar para mim e reparar que estou bem aqui.
Do seu lado.
Assim como você esteve do meu tantas vezes antes.

Aprendo sofrendo, você me ensina vivendo.
Vivemos vivendo juntas. Infinitesimalmente juntas.
Sinto vontade de fugir, de correr para bem longe.
Onde eu possa não ouvir sua voz e as mesmas reclamações,
as mesmas exclamações, e depois, os mesmos pedidos de desculpas.
Mas que fazer?
Te amo, e esse amor é uma corrente livre e espontânea,
e por ser espontânea, ela não se quebra,
funciona.
Assim como duas desejamos.

Seguro minhas emoções e lhe peço:
- Vou, porém ficarei.

terça-feira, março 10

Chuck Barris.

Tive uma idéia para um novo programa de auditório. Três velhos sentam em três cadeiras em uma mesma sala e recebem, cada um, uma arma e uma bala. Eles devem permanecer sentados pensando o quanto conquistaram em suas vidas. Vence quem não atirar em si mesmo.

O prêmio é uma geladeira.

domingo, março 1

Fragmento de uma lembrança # 8

Na última vez que fui parar no hospital, você estava lá... Lembro que quando entrou no quarto escuro você sussurrou: "baby?". Eu, semi-acordada, disse "oi", e abri um sorriso. Você se sentou ao meu lado na cama e passou os braços por mim. Me deu as flores que misteriosamente havia comprado às 3 da manhã e um cartaz que eu implorava por há uma semana. Abriu a mochila sobre meu colo e de dentro dela tirou um disc man e disse para eu abrí-lo. Estava ali o novo cd de uma de nossas bandas prediletas, eu ainda não o tinha e precisava ouví-lo. Meu sorriso cresceu mais ainda quando me deu um beijo. Você, então, tentou levantar meu braço para deitar mais próximo e viu a agulha que permitia a entrada do soro. Seus olhos foram claramente de quem não entendia o que se passava. Eu sorri e disse para não se preocupar. Completamente dopada dos outros remédios para dor eu dormi em seu peito. Mais tarde fomos acordados pela enfermeira que entrava para mudar o soro. Você não podia mais ficar ali, ordens do hospital, "apenas um acompanhante". Olhamos para minha mãe, que roncava na poltrona. Eu disse que no dia seguinte te ligaria.

Se eu não tivesse te ligado estaria eu sofrendo menos agora?
Seria eu mais feliz?
Não, não teria vivido. Não seria quem sou.

(Saudade de te fazer gozar apenas olhando para mim enquanto escovava meus dentes).