terça-feira, janeiro 20

Futuro do pretérito.

Em um momento como esse,
Em um dia como esse,
Em um final de tarde que ameaça chover...

Eu estaria com você, provavelmente vestindo suas roupas que nunca ficavam por muito tempo em meu corpo. E quando chovesse mais forte, iríamos para a varanda. Sentaríamos e poríamos as nossas pernas para fora, não importávamos com nada, só com aquele pequeno momento de amor e afeto. Depois pegaríamos toalhas, um secaria o outro delicadamente e faríamos amor, ou veríamos algum filme comendo comida chinesa,
ou ambos.

Fragmento de uma lembrança # 7

Você andava com um Macunaíma no bolso do seu jeans nessa época. Elogiou meu cabelo enquanto fechava o livro e disse que me amava. Sorri, e naquele momento vi que queria passar o resto da minha vida ao seu lado.

Parece que foi ontem que eu carregava o meu próprio peso.
Você cantava amor para mim.

quarta-feira, janeiro 14

Fragmento de uma lembrança # 6


Estava usando o meu vestido verde que agora só uso para a praia. Tocava Adeus Você e eu esperava que a música terminasse antes que você tocasse a campainha. Me perguntava se o meu novo corte de cabelo seria bom para o momento, ou ruim. Quatro dias sem nos falarmos, o nosso 'tempo' não conseguiu durar mais do que isso.
A porta se abriu:

- Você tá linda.

"- um tantão assim?"

Não sei o que é,
sei que acontece.

No meio da minha noite, dos meus amigos, do meu sorriso
Vejo que você não está lá
Finjo que você é o outro, que disse que ia mas não foi
Ou que disse que ia mas não falou comigo
Apenas finjo.

Você é a pessoa que me deixa triste
É a pessoa que me proporciona sorrisos desesperados
Desespero por lembrar de uma época
Uma outra época

Você é aquele que me faz me auto-destruir
Você é aquele que me fez bem
porém mal
Você é aquele que está longe
e que assim permanecerá
Você é aquele da foto
Você é aquele que amei
e que estranhamente ainda amo
Aindo sangro,
literalmente
Mas só de vez em quando (literalmente)
Mas só todos os dias (metaforicamente, ultimamente)

Você é aquele que não está ao meu alcance
e,
por isso,
me perco.

sábado, janeiro 10

Foi o vestido. Sei que foi.

last time I saw me I was sitting backstage with a perfect dress, a perfect mess.

Moça Com Brinco de Plástico (Parte 4)

Era sexta-feira, dia de fazer bolo, caso houvesse os ingredientes.
- Guarda isso que eu to te falando Ela: bater bolo, lavar roupa à mão, carregar peso, subir e descer escada e ainda trabalhar durante a noite toda... Isso é academia de pobre!
- É, mas você está me saindo classe alta, hein?
- Há, mas você sabe, eu já te disse que a sensação de descer é sempre melhor que a de subir, seja de carro, a pé, na montanha russa, a não ser subir de classe social!
- Esse é seu lema de vida, Marina.
As duas passaram à tarde de sexta fazendo bolo e se divertindo da maneira mais possível que duas pessoas pobres têm de se divertir.
Elas ainda teriam que trabalhar naquela noite. Não, elas não tinham folga. Só quando se davam o luxo de folgarem quando quiserem, não tinham cafetão, ninguém mandava nelas nem pedia metade do dinheiro conquistado. Mas elas sabiam que não podiam matar um dia do trabalho, se não, não teriam dinheiro pra comer. Disso, elas sabiam muito bem.


- Me dá um beijo.
Ela foi pra frente e deu um beijo vazio em sua boca.
- Te pedi um beijo e você me deu meio. – disse Bernardo.
Ela foi pra frente e deu um beijo cheio em sua boca.


- Quando você vai mostrar sua casa?
- Por que faria isso?
- Ah, eu gostaria de conhecer, acho que o que estamos tendo aqui não é mais uma questão de apenas clientela. Faz um tempo que não te pago para fazer o que faz e você não reclama. Ou não pensa como eu?
- Não sei o que penso.
- Eu acho que te amo.
Ela não respondeu, simplesmente disse:
- Vira na 13 de Maio e pega a Evaristo da Veiga, moro na Cinelândia.
Ele o fez.
Entraram em sua casa, em oito passos estavam em sua cama, hoje a canga era amarela com almofadas azuis e vermelhas por cima. A parede pintada de vermelho descascava. Um balde no canto esquerdo do quarto denunciava uma goteira.
A partir daquele dia, começaram a fazer amor.
- Só acredito num amor como o de Florentino Ariza e Fermina Daza, que não desiste. – anunciou Ela.
Eles se encontravam cobertos pela canga amarela, ela, com o peito esquerdo de fora. Fazia 15 graus no Rio de Janeiro.
- Isso é García Márquez. Conhece o escritor?
- Conheço.
- Como... ?
- Já devia saber que não sou qualquer puta. Sei tanto quanto é 10 vezes 100 como também conheço os livros de García Márquez.
- É, eu sei. Mas ainda sim levei surpresa. Sabe... Eu não costumava pagar para transar. Você foi minha primeira. Então sempre tive esse pré conceito sobre prostitutas, que todas são analfabetas e que só se interessam por dinheiro.
- Sou diferente.
- Percebi. Mas então, não vai me contar onde conheceu Márquez?
- Herança da minha mãe. Ela amava Gabriel García Márquez.
- Uau, nem minha mãe me deixou livros dele, tive que aprender sozinho.
- Minha mãe era única. Gostava muito de mim. Até que começou a odiar a todos. Enlouqueceu, seus últimos dez anos de vida foram assim, odiando a todos.
O silêncio perdurou na sala. Bernardo não sabia o que dizer, e Ela estava muito perdida em antigas lembranças, até que novamente, quebrou o silêncio:
- O ser humano ama às pressas, mas odeia devagar.
- Márquez também?
- Fonseca.
- Rubem?
- É, gosto dele, pois é simples e fala da gente.
- Da gente quem?
- Da gente: pessoas, amantes, putas.
- Herança de quem esse?
- Da vontade de ler que minha mãe me deixou. Conheci por aí. Já o citei antes pra você. O homem tergiversante... Lembra?
Bernardo estava sorrindo, não acreditava na mulher que tinha a seu lado.
Fizeram amor mais uma vez.

Moça Com Brinco de Plástico (Parte 3)

- Dormiu bem hoje?
Ela olhou para Marina, a amiga que dividia a casa, caso ainda não a tenha apresentado.
- Acordei no meio da noite com você segurando meu dedo indicador com tanta força, - disse Marina – ia te acordar, mas preferi não o fazer. Estava sonhando com ele de novo não é?
Ela assentiu.
- Por quê? O que te fez lembrar dele? Estava tão melhor desses pesadelos.
- O nome dele é Bernardo.
- Eu sei Ela...
- Não! O nome do cara de ontem e anteontem!
- Ah... – levantou da mesa e foi ao encontro da amiga, abraçou-a o mais forte que podia. – Quer saber, tive uma idéia. Vamos ficar em casa assistindo filme na televisão o dia todo. Que tal?
- Pode ser.
- E se quiser, podemos não ir trabalhar hoje. Podíamos ficar em casa e cozinhar algo.
- Não, temos que trabalhar, se o deixarmos de fazer isso poderá se tornar uma rotina. Nós precisamos disso, você sabe. Precisamos desse dinheiro mais do que qualquer outra coisa.
Marina concordou e foram para a cama assistir tevê. Naquele dia não passou nenhum filme envolvendo mães incapacitadas sem dinheiro e bebês morrendo num hospital frio.


Ela não queria entrar naquele carro de novo. Não podia, não agüentaria passar mais uma noite ao lado daquele homem. Por mais incrível que ele pudesse ser, Ela sabia que não seria bom. Seria só sexo e nada mais. Mas também, era isso que devia ser, apenas sexo, era seu trabalho. Nada mais do que isso, Ela sabia que não podia pensar nada mais do que isso. Estranho ele querer dois dias seguidos a mesma pessoa, vai ver ele foi com sua cara, ou com suas pernas.
Estava na Avenida Presidente Antônio Carlos, passou pela Avenida Erasmo Braga, Rua São José, Rua da Assembléia e finalmente chegou à Praça XV.
Cumprimentou as amigas, passou um fusca vermelho e chamou por Ela.
- Quantos anos você tem? – perguntou o motorista ainda oculto pela sombra e fumaça do cigarro vinda do carro.
- O suficiente.
O Homem do Fusca Vermelho esboçou um sorriso e deixou que ela entrasse.
Viraram na Primeiro de Março e depois entraram na rua do Ouvidor para chegarem à Avenida Perimetral e finalmente ao Cais do Porto.
De vista para o mar azul escuro com o vento da madrugada batendo no vidro da janela, Ela dava uma rapidinha para o Homem do Fusca Vermelho. Ela não pensava no que fazia, Ela não pensava no homem que estava em sua frente e muito menos na cor do fusca, Ela pensava no seu amor, que provavelmente, nesse momento, estava passando na Praça XV em um Picasso prata.
- Ela! Que bom que você voltou! Quanto é 10 vezes 100? – perguntou Marina.
- 1000. É só acrescentar o número de zeros que você ta multiplicando.
- Ah é, brigada.
- Por quê?
- Foi o que acumulei no mês. Estou indo bem, não?
- Com certeza. Então... Alguém passou por aqui me procurando?
- Você quer dizer o do Picasso? Não, ele não passou aqui.
Ela não sabia se estava aliviada ou decepcionada. Não sabia o que sentir quiçá falar para a amiga, ali pedindo uma explicação da dúvida.
- Não é nada, só para saber mesmo. – explicou Ela.

teia.

- Está chovendo aqui dentro.
- Então fecha a janela, por favor.
Mas não queria me mexer. Minhas mãos estavam muito bem posicionadas. Fiquei a observar os pingos de chuva caindo no chão de madeira.
E pensei: se eu levantar, me sentirei melhor em fazer o certo? É o certo só porque ela disse? Só por eu saber as conseqüências ruins? Um chão manchado. Acho que obedecemos ordens demais...
Levantei e fechei a janela.

Fragmento de uma lembrança # 5

Lembro de sua respiração ofegante, seus joelhos sangravam. A única coisa que você dizia era "Fala comigo". E repetia, e repetia. Fala comigo. Eu olhava para baixo. Te amava, mas não conseguia dizê-lo em voz alta, não podia. Você chorava, estava desesperado, nunca o vira assim. Se eu quisesse poderia ter terminado com tudo aquilo ali. Você estava tão frágil... Mas foi visto que eu sou a mais frágil da relação. Como era tudo novo, nunca me impus como deveria.
Cuidei do seu ferimento, porém queria que sangrasse até morrer. Mas você fez um bom trabalho, cuidou do meu por um tempo. Realmente cuidou. Mas não foi o suficiente, e no final só provou que eu estava certa. A dor da falta de confiança permanece em mim, e nunca sairá. Eu não queria estar certa. Por quê? Fala comigo. Pra quê? Fala comigo.

domingo, janeiro 4

love is blind.

Ficou aqui dentro,
e não consegui segurar,
de que adiantou?

Nada, continua aqui. Só que de maneira pior.

Mas eu estava pensando em você, quando gozei.

Para ler ouvindo Spin the Context, de Anja Garbarek.

Um copo se quebra.
Clara sente o vento balançando seus negros, antes loiros, cabelos. Ela olha para baixo, se depara com o estrago. Se deita no chão de madeira, e cata os cacos maiores, os pondo dentro do resto do copo. Como em uma luta, Clara tenta sair vencedora da guerra com seus dedos e os cacos. Ela tenta achar uma maneira mais confortável deles ficarem dentro do copo. Clara não sabe porque faz isso, simplesmente faz. Acha que será melhor. E faz. Mas percebe, mesmo sem sentir, que por mais confortável que fique, por mais vitoriosa que ela saia, sempre terá seus dedos cortados, e os cortes se estendem...
Quando a primeira gota cai ao chão, pessoas em volta se assustam, como se fosse possível ouvir um alto ruído. O ruído do sangue batendo ao chão. Como se fosse um pedaço de cada alma ali presente.
Clara treme. Com o canto do olho tenta procurar, porém não acha.

(se você leu não ouvindo a música dita no título, você não realmente leu).

sábado, janeiro 3

tolice (des)humana.

como fui tola!
tentar forçar um desejo...
é quase tão impossível quanto forçar um não-amor.
sempre fui contra e pisei em quem dizia o contrário
acabei caindo em minha própria armadilha.
Será possível me pisar?

Deixa a criatividade para mais tarde.

nunca demoro mais de uma hora para escrever um poema,
escrevo o que vem em minha mente, o que sinto
e se não souber passar tais sentimentos para palavra simplesmente não escrevo
eles ficam aqui dentro,
formando um ninho,
tecendo uma teia,
esperando o ovo descascar,
e se libertam de estranhas diferentes maneiras.

Grito,
choro,
sorrisos,
abraços,
cortes,
goles,
tragos,
respiração profunda
profundamente pesada,
meus olhos não aguentam nem ouvir Anja Garbarek

mas nunca passarei mais de uma hora a escrever algo por ter dificuldades.
se não é para sair, não sai. Não agora.

quinta-feira, janeiro 1

água de coco com vodka.
é como pegar um pedacinho da sua infância e corrompê-lo.

obrigada, Nina.

Sem brioches, por favor.

Acordei em um novo ano:
sentimento de vazio, de algo que não foi feito.

Três maços de cigarro deixados para trás,
Tênis na varanda,
Meias perdidas,
Restos de vidro quebrado ao chão,
O aparelho de som ainda ligado,
O ventilador também fora esquecido,
Restos de pegadas da noite anterior,

Comi o que vi, deitei, filme, levantei:

Velvet Underground tocando na minha própria The Factory,
A louça foi lavada,
A comida foi esquentada,
Meu cansaço foi renovado

Pronta para a próxima noite,
Para os próximos beijos e abraços,
Para os próximos sorrisos amigos,
Para os próximos experimentos,
(que venham)
sem brioches, por favor.

O Processo.

ah não...
aí vem de novo..
aquele sentimento fraco
de fraqueza
franqueza
francamente, nem estava em minha mente
que você me trataria assim,
a me observar a noite inteira,
sem nenhuma palavra que realmente fizesse sentido

grande coisa!
continuo com os dedos cortados e sangrando,
minha alma continua a se despedaçar
tentando se desenbaraçar
o que só a embaraça mais

sinto que estou mais uma vez perdida
não em você, no seu antigo você
nem no seu novo, claro que não

Não sei, claro que não sei.
Posso chutar, tentar adivinhar,
mas não acertar.
Acho que é algo que não é para se saber,
que fique na dúvida.

Mas algo tenho que fazer,
alguma decisão precisa ser tomada
Antes que o processo de auto-destruição comece de novo
Antes que o processo de auto-improvisação
Antes que o processo de auto-flagelação
Antes que o processo de auto-fertilização
Antes que o processo de auto-'masoquisteismo'
Antes que você perceba
Antes que você me veja
como realmente sou,
numa moldura clara, simples, sem sombras
Assim como pareço ser agora,
nua.