sábado, janeiro 10

Moça Com Brinco de Plástico (Parte 3)

- Dormiu bem hoje?
Ela olhou para Marina, a amiga que dividia a casa, caso ainda não a tenha apresentado.
- Acordei no meio da noite com você segurando meu dedo indicador com tanta força, - disse Marina – ia te acordar, mas preferi não o fazer. Estava sonhando com ele de novo não é?
Ela assentiu.
- Por quê? O que te fez lembrar dele? Estava tão melhor desses pesadelos.
- O nome dele é Bernardo.
- Eu sei Ela...
- Não! O nome do cara de ontem e anteontem!
- Ah... – levantou da mesa e foi ao encontro da amiga, abraçou-a o mais forte que podia. – Quer saber, tive uma idéia. Vamos ficar em casa assistindo filme na televisão o dia todo. Que tal?
- Pode ser.
- E se quiser, podemos não ir trabalhar hoje. Podíamos ficar em casa e cozinhar algo.
- Não, temos que trabalhar, se o deixarmos de fazer isso poderá se tornar uma rotina. Nós precisamos disso, você sabe. Precisamos desse dinheiro mais do que qualquer outra coisa.
Marina concordou e foram para a cama assistir tevê. Naquele dia não passou nenhum filme envolvendo mães incapacitadas sem dinheiro e bebês morrendo num hospital frio.


Ela não queria entrar naquele carro de novo. Não podia, não agüentaria passar mais uma noite ao lado daquele homem. Por mais incrível que ele pudesse ser, Ela sabia que não seria bom. Seria só sexo e nada mais. Mas também, era isso que devia ser, apenas sexo, era seu trabalho. Nada mais do que isso, Ela sabia que não podia pensar nada mais do que isso. Estranho ele querer dois dias seguidos a mesma pessoa, vai ver ele foi com sua cara, ou com suas pernas.
Estava na Avenida Presidente Antônio Carlos, passou pela Avenida Erasmo Braga, Rua São José, Rua da Assembléia e finalmente chegou à Praça XV.
Cumprimentou as amigas, passou um fusca vermelho e chamou por Ela.
- Quantos anos você tem? – perguntou o motorista ainda oculto pela sombra e fumaça do cigarro vinda do carro.
- O suficiente.
O Homem do Fusca Vermelho esboçou um sorriso e deixou que ela entrasse.
Viraram na Primeiro de Março e depois entraram na rua do Ouvidor para chegarem à Avenida Perimetral e finalmente ao Cais do Porto.
De vista para o mar azul escuro com o vento da madrugada batendo no vidro da janela, Ela dava uma rapidinha para o Homem do Fusca Vermelho. Ela não pensava no que fazia, Ela não pensava no homem que estava em sua frente e muito menos na cor do fusca, Ela pensava no seu amor, que provavelmente, nesse momento, estava passando na Praça XV em um Picasso prata.
- Ela! Que bom que você voltou! Quanto é 10 vezes 100? – perguntou Marina.
- 1000. É só acrescentar o número de zeros que você ta multiplicando.
- Ah é, brigada.
- Por quê?
- Foi o que acumulei no mês. Estou indo bem, não?
- Com certeza. Então... Alguém passou por aqui me procurando?
- Você quer dizer o do Picasso? Não, ele não passou aqui.
Ela não sabia se estava aliviada ou decepcionada. Não sabia o que sentir quiçá falar para a amiga, ali pedindo uma explicação da dúvida.
- Não é nada, só para saber mesmo. – explicou Ela.

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