segunda-feira, fevereiro 9

Moça Com Brinco de Plástico (final)

- Minha buceta fala francês.
Bernardo incrédulo riu.
- Quel est donc ce lien entre nous, cette chose indéfinissable? Où vont ces destins qui se nouent, pour nous rendre inséparables ?
- Wow, nem eu sei falar francês direito! Tive que burlar meu currículo para ser aceito na empresa de advocacia que trabalho. Pode me dizer o que disse?
- O que é então essa ligação entre nós, essa coisa inexplicável? Aonde vão esses destinos que se amarram para nos deixar inseparáveis?
Ficou sem palavras.
Fizeram amor mais uma vez.


Era segunda-feira, o Homem do Fusca Vermelho apareceu novamente. Chamou por ela. Nós sabemos quem é ela.
Ela foi. No mesmo lugar da última vez fez a mesma coisa da última vez. Quando ela estava terminando ele pediu que ela o chupasse, ela disse:
- Não fui paga pra isso.
- Ah, vai. Te pago mais dez reais. Ou vinte.
Eram quatro horas da manhã, estava no fim do seu expediente, Ela só queria ir pra casa descansar, estava exausta, precisava deitar... Precisava comer melancia... Precisava...
- Acorda sua vaca! – gritava o Homem do Fusca Vermelho.
Aos poucos Ela abriu os olhos, seu rosto ardia.
- Não começa a passar mal no meu carro, não tenho nada a ver com isso. Puta fraca do caralho! Não sabe nem chupar um pau direito! Vai, sai daqui! Sai do meu carro!
Empurrou Ela pra fora e foi embora. Ela levantou e voltou pra Praça XV, apenas Marina estava lá.
- Que marcas são essas no seu rosto?
- Que? – Ah, por isso ardia.
- Você deixou te baterem?
- Eu... Eu desmaiei.
- Vamos pra casa.

- Estou grávida.
- O que?
- Grávida.
- Mas... E é meu?
- Tem que ser. Uso camisinha com os outros, você é o único que já aconteceu sem...
- Mas... Pode ter estourado.
- Acho bem difícil, eu sempre verifico quando eles jogam no chão da rua ao final de... Você sabe.
- O que faremos?
- Não sei... Não sei.
Ficaram em silêncio por um tempo.
- Quero ter esse bebê com você. – disse Bernardo.
- Eu também quero.


Quinta-feira, duas horas da madrugada, praça XV.
- Marina, vim só te avisar, eu estou indo.
- Mas agora?
- É.
Um fusca vermelho parou ali, chamou por ela. Sabemos quem é ela. Ela foi até lá e disse que não fazia mais aquilo.
- Puta não deixa de ser puta. Deixa de ser metida. Vem me dar essa bucetinha vem.
O cheiro de álcool vindo da boca dele era forte o suficiente para saber que estava elevado. Ela virou as costas, o homem urrou:
- Volta aqui agora sua puta! Eu to mandando! – levantou uma arma, de maneira que só ficava visível para Ela. Sem escolha, entrou no carro.
- Não faço mais nada disso, é sério. Parei.
- E vai viver como otária?
Foram no lugar de sempre. Lá, com a arma apontada para sua cabeça, ele a obrigou a fazer o mesmo de sempre. Ela negou. Não faria mais aquilo carregando seu futuro filho.
- Quer morrer então, é?! – Um tiro é ouvido do cais.
Uma fina linha de sangue escorreu passando pela Avenida Perimetral, entrando na Rua do Ouvidor, girando à esquerda na Primeiro de Março, chegou à Avenida Presidente Antônio Carlos, virou na Rua Santa Luzia, chegando finalmente à Avenida Rio Branco, quando parou na Cinelândia.
A maquiagem estava borrada, continuava com o corpo aparentemente usado do jeito que sempre fora. Um motor de fusca é ouvido do cais. Agora ia ficar tudo bem, os homens de branco estavam chegando.

2 comentários:

Anônimo disse...

bOceta

.luísa pollo disse...

"Faço um poema denominado Infância ou Novos Cheiros de Buceta com U: Eis-me de novo/ ouvindo Beatles/ na Rádio Mundial/ às nove horas da noite/ num quarto/ que poderia ser/ e era/ de um santo mortificado./ Não havia pecado/ e não sei por que me lepravam/ por ser inocente/ ou burro./ De qualquer forma/ o chão estava sempre ali/ para fazer mergulhos./ Quando não se tem dinheiro/ é bom ter músculos/ e ódio./

Leio os jornais para saber o que eles estão comendo, bebendo e fazendo. Quero viver muito tempo para ter tempo de matar todos eles."