segunda-feira, fevereiro 9

Meu casulo de fumaça.

Lembro do cheiro daquela época. Um cheiro frio, triste, porém doce. Só ouvia aquela do cabelo para o alto. Me afogava e nadava por suas melodias e letras sobre relacionamentos que terminaram mal. Me identificava tanto com ela... Era a única que realmente me entendia. Ficava durante horas deitada em minha cama escrevendo poemas rimados em meu laptop enquanto ouvia (e sentia) o choro preso em sua voz, sentindo aquele cheiro... Cheiro de abandono, de toda a tristeza presente nas ruas e apartamentos me envolvendo. Algo incontrolável, odor assassino que se impregnava por minhas roupas. Ao estudar antigas matérias, vi páginas molhadas e letras ilegíveis. As páginas da minha vida se desfaziam em lágrimas e em poucos e raros abraços sinceros. Se alguém me dissesse que pulando de um prédio, ou bebendo tal drink, ou deixar de comer fosse melhorar o que eu estava sentindo, eu faria. E fiz. Desejava que minhas retinas impedissem o inevitável e que minhas pupilas dilatassem até doer. Queria meus cílios secos.

Tenho bebido essas lágrimas por tanto tempo, tudo que restou foi o gosto de sal em meus lábios.

Um comentário:

Lucas disse...

"Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.

Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.

Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.

Se acaso isso é desventura:
ir-se a vida
sobre uma rosa tão bela,
por uma tênue ferida."