terça-feira, maio 26

com a boca fácil no infinito, beije teu enorme lado tranquilo

- Ta tudo bem? - ele perguntou assustado. Seu olhar demonstrava preocupação com o outro olhar, perdido no mar.
Ela não respondeu, apenas balançou a cabeça, indicando que sim.
- O que aconteceu?
Ela abriu a boca, e tentou falar. A primeira letra saiu num sussurro, a segunda um pouco mais alta, a terceira já se compreendia.
- ntem, estava sem sono e resolvi sair da barraca para tomar um ar, ver a lua. Ela estava cheia, e o céu coberto de estrelas. O mar estava calmo e eu sentei na areia, esperando o sono vir. De repente, tudo ficou silencioso, não se ouvia mais as ondas do mar, nem os animais, eu só ouvia a grama atrás de mim, crescendo... O céu, então, ficou todo preto, as estrelas desapareceram e nem a lua iluminava mais o que antes era minha cantiga de ninar. Fiquei rodeada pelo escuro. Um sentimento de medo se apossou de mim, mas antes que conseguisse me dominar por inteira pontos luminosos passaram pelo céu. Milhares deles, cobriam o céu inteiro com sua luz esverdeada. Tudo em volta de mim ficou verde. A areia, o mar, a floresta, as cabanas, meus pés, o silêncio. Meus olhos não piscavam. Tentei gritar, chamar vocês, me mexer, mas nada consegui. Era um conjunto nunca antes visto por mim, e acho que por ninguém, de estrelas cadentes. Num segundo depois a lua voltou ao seu lugar e à sua devida cor. As estrelas também estavam lá, e o barulho do mar... Ouvi algo atrás de mim, e quando me virei, vi vindo em minha direção, uma pantera. Seu pelo preto brilhava à luz da lua, seus olhos refletiam todas as estrelas presentes no céu. Ela me olhava. Continuei sem conseguir me mexer. Ela veio até mim e sentou ao meu lado. Olhou para frente, para o mar. E fiz o mesmo. Ficamos assim, paralizadas, assistindo ao mar. Alguns minutos depois ela se levantou e foi embora. Eu não fiz nenhum desejo.