domingo, setembro 28

Sex and The City Without Sex.

O que fazer quando um dos seus melhores amigos te chama para ir ao cinema ver um filme que, cá entre nós, não te interessa muito?
Dizer sim é claro.
Primeiramente, Sex and The City não era uma opção tão repugnante a ponto de negar o convite de meu amigo. Os casos e descasos das quatro amigas em New York sempre me interessaram na tevê. Por que o filme seria o contrário? Talvez por muito provavelmente ter todos os clichês que a série deixava de fora, ter um final previsível e ter um amigo do lado que já vira o filme duas vezes.

Combinamos de nos encontrar em botafogo, minha idéia era ver o filme no bairro mesmo, afinal estávamos lá. Mas ele insistiu porque insistiu em ver no Largo do Machado, a sessão era mais cedo e ele não podia chegar muito tarde em casa. OK, por que não? Fazia algumas semanas que não andava por aquelas bandas.
No ponto de ônibus, esperando e esperando, já meio preocupada com o horário do filme, passa um ônibus que seguiria um caminho diferente, porém não mais demorado. Apenas nos deixaria a alguns 30 passos do cinema.
- Ah não, os outros deixam na porta!
- São só alguns passos cara! Dá no mesmo, melhor do que esperar os outros.
Eu, crente que meu amigo me seguiria na tristeza e na felicidade, subi no ônibus. Olho pra trás e lá está meu amigo dizendo que não ia subir, que não era o ônibus certo e blá.
Confesso que ri da situação. Não sabia se pensava se ele era um idiota em não me seguir ou se eu era a idiota em não descer.
Enfim, um tempo depois ele me liga perguntando onde estava. Eu, já dando meus trinta passos, disse que estava chegando. Ele disse o mesmo. Ao chegar fui direto comprar os ingressos, e para minha extraordinária surpresa vejo que o filme não está passando lá. Eu não sabia se ria ou chorava, já estava ficando nervosa. Ver Sex and The City no cinema não deveria ser tão complicado.
Ao me encontrar com ele e contar o ocorrido não acreditou em mim e foi conferir. Eu não subiria aquelas escadas de novo nem que me pagassem! Pra ver um filme que eu já não tinha muito vontade e mais! Um filme que não passava lá.
Ao descer ele fez uma piadinha que não queria mais ver o filme ali. Achei o momento mais que apropriado e disse:
- Você não é meu amigo. Você não confia em mim. Eu disse primeiro pra gente ver lá em botafogo, já que já estávamos lá. Aí você não confia que o ônibus dava, era só andar um pouco. Deu uma de riquinho e quis pegar outro que deixava na porta, assim não dá.
Resolvemos voltar pra botafogo com unanimidade. Chegamos lá, compramos os difíceis ingressos e ficamos esperando. Sim, ele é divertido. Afinal, é dos melhores amigos. Mas o pior ainda não tinha passado. Rindo das cantadas e olhares sórdidos que ele lançava pra lanterninha que pegaria nossos ingressos esperamos até o filme.
A sala abriu, entramos e sentamos. Parêntesis aqui, que raio de música é essa que toca no Cinemark enquanto esperamos o filme começar?! Cada coisa... O Arteplex além de passar filmes mais interessantes tinha umas músicas dos filmes de Chaplin, o que era bem melhor do que Jorge Vercilo e óperas com homens cantando com um quê de eletrônico no fundo.
Meu amigo, pertencente à sociedade, tirou seu ipod do bolso, ouvimos o que gostávamos em comum, que era bem pouco, e os trailers começaram.
Desde o início ele já estava reclamando que todas as pessoas vinham sentar perto da gente, eu assumi que tínhamos um ímã escondido em algum lugar e que era para ele se calar que o filme já ia começar. E como uma boa cinéfila, odeio quem fala durante o filme.
Passando os trailers e anúncios, que cá entre nós, há muito mais anúncios agora do que trailers no cinema, o que é um absurdo. Já basta a tevê para por em nossas cabeças que precisamos tomar Coca Cola e ir a tal restaurante. Enfim, acabando tais chatices ele disse: “Acho que vai começar, estou sentindo que vai começar.” Fiquei quieta, já era hora de se calar. Confesso que pensei se teria sido um erro ver o filme ao lado dele, já que já o havia visto duas vezes. Mas relaxei e comecei a ver as graças e desgraças de Carrie, Samantha, Miranda e Charlotte.
Sobre o filme: achei bom até. Podia ser bem pior, bem que a crítica estava boa. Sim, eu acreditava na crítica, sempre concordei. E já deixei de ver filmes pela crítica, minhas amigas sempre discordaram de mim dizendo que era um absurdo já que era a visão de outras pessoas. Mas a verdade mesmo é que elas não gostavam, pois sempre falavam mal dos filmes “água com açúcar” delas e bem dos meus dramas políticos policiais. O mais legal do filme são as roupas, saí de lá louca pra fazer comprar nas marcas citadas e claro, sentar com minhas selecionadas amigas e conversar sobre homens, quem sabe mais tarde.
Durante o filme: O primeiro ocorrido, foi ao mostrar uma cena razoavelmente quente de sexo. Meu amigo botou a mão no meu braço e rindo disse que uma velhinha próxima a ele estava com uma cara muito engraçada cobrindo o rosto para não ver a cena. Ele ria insistentemente me pedindo para olhar. Olhei, e dei uma risadinha educada. Depois da bela noiva com um vestido mais lindo ainda ser largada no altar, e a “cena triste que faz nossos corações doerem um pouco e nossas glândulas exócrinas lacrimais produzirem um pouco mais rápido seu produto”, o telefone dele se acendeu. Ele pegou e abriu, botou no ouvido e disse bem baixinho: estou no cinema, me liga depois. Quase morri. Se tem algo que eu odeio no cinema é o telefone tocar (estava no silencioso, mas a luz em si já incomoda) e mais ainda é a pessoa atender ao dito cujo! Não pode deixar tocar? Obviamente, para a minha sorte a pessoa do lado de lá não escutou uma palavra do que ele disse e teve que ligar de novo. Obviamente, para a minha sorte ele quis atender de novo, e obviamente, para a minha sorte ele começou a conversar com a pessoa, dizendo: “pode falar, eu já vi esse filme. Quero saber o que aconteceu...AAAAAHHH, SÉÉRIIIOOO? E agooora? Caraaamba!” Eu sem paciência, querendo matar meu amigo disse quase gritando: “Desliga essa porra agora” e fiquei repetindo insistentemente até ele desligar. O telefone parou de nos incomodar e ele parecia ter se ajeitado na poltrona. Estava eu curtindo o filme de novo quando de repente ele vira pra trás e começa a rir. Segura no meu braço de novo com toda a força e diz: “Cara, tem um monstro ali atrás, é sério, não to brincando, um monstro cara”. Eu já puta nem educada quis ser, não olhei e tirei meu braço dali. Continuei vendo o filme. Até que eu estava gostando, sabe. Não satisfeito com eu não ter dado bola na última interrupção, chega uma cena em que ele, já sabendo alguns diálogos de cor, resolve falar a fala antes dos atores, isso é outra coisa que odeio. Licença, eu ainda não vi o filme! Reclamei e ele pediu desculpas. Continuei o filme. Nas partes em que ficava implícita uma risadinha de fundo ele sempre ria. Eu, sinceramente, não entendia. Era a terceira vez que estava vendo o filme, como assim! Sex and The City era tão engraçado que uma mesma piada tinha a mesma graça três vezes?! Vai ver meu humor era muito sofisticado, vai ver eu era muito metida para rir de todas as piadas. Ele começou a reclamar que a velhinha próxima a ele não parava de rir. Ela ria da piada e ria do cachorrinho indo a porta receber o dono. É, devia ser irritante, odeio gente infeliz assim que resolver dar todas as risadas da semana num cinema. Mas vai ver ela era assim, e isso era triste. Mas ele não se importava com a amiga que estava ali tentando ver o filme mais puta impossível. Chegando ao fim o filme e eu tendo adivinhado boa parte das piadas antes delas acontecerem, não adivinhei de cara o fim. O que me deixou feliz, já que nesse tipo de filme eu sempre sei. O engraçado, é que o fim foi como é em todos, como eu sempre adivinho. Não sei por que acreditei que poderia ser diferente e não me senti mal em terminar como deveria terminar, achei legal o filme dar uma impressão diferente e no final acabar terminando bonitinho. De certa forma, era diferente dos outros, mas terminava igual. O negócio é: tal tipo de filme começa, você conhece os personagens e passa o filme inteiro sabendo que terminará de tal jeito. Assim que os problemas apareceram no filme eu pensei: “ta, vai acabar como sempre acaba, tudo feliz no final”, mas fui mudando de idéia, achando que não, poderia ser original e terminar diferente. Não terminou diferente, mas foi original por me fazer pensar isso. O que deixa o filme ser bom para todos. Para os que não agüentam esses clichês dos “água com açúcar” e para os que precisam ter um final feliz, se não o programa foi perdido.
Voltando ao amigo, a gota d’água, se é que já não estava na terceira gota, foi ao término do filme. Sabem quando a câmera vai subindo, as quatro amigas estão rindo, e começa a mostrar outras mulheres, e a locução de Carrie (como na série) vai chegando ao fim e você pensa: o filme acabou. Mas nunca sabemos ao certo. Dessa vez eu soube. Mas da pior maneira possível. Meu querido amigo, ao subir a câmera com Carrie ainda falando! Vira e diz: “pronto, acabou. Você quer ver os créditos?”
Ah, eu morri. Broxei. Simplesmente não acreditei. Já estava convencida de que não ia mais ao cinema com ele ver filme que ele já tinha visto e agora me convencia por completo de que não dava mais ir ver filme algum ao lado dele! Aí ele olhou pra minha cara e disse: “é sério, acabou. Eu já vi esse filme.” EU SEI QUE ACABOU, OBRIGADA. Juro que me deu vontade de ver os créditos até o fim, mas a voz irritante da Fergie não me deixava ficar na poltrona. Ele quis sair correndo e eu, com toda minha calma e raiva contida fui pegando minha mochila, vendo se alguém me ligara durante o filme, catando meu lixinho (coisa que ele nem fez) e levantando calmamente. Ao sair explodi: “NUNCA MAIS”. Expliquei e ele em contrapartida disse: “ai, você é muito chata no cinema, bem que me disseram pra não falar nada se não você me matava, cheia de mania...”. E eu incrédula gritava na escada rolante: “ABSURDO, ALÉM DE FALAR O TEMPO TODO VOCÊ ATENDEU AO CELULAR, FICOU CONVERSANDO, DISSE FALAS DO FILME E AINDA DISSE QUE O FILME ACABOU ANTES DE ACABAR! NUNCA MAIS!” As pessoas em volta deviam achar que era uma briga de namorados ou amigos simplesmente, eu ria de vez em quando e os rostos em volta mudavam um pouco. Mas a raiva era grande.
Despedimos-nos e eu vi que nem sempre se dá pra fazer tudo com as pessoas que a gente gosta. Amigo não é tudo igual e não encaixa em todos os lugares. Vi que não dava pra ir ao cinema com ele, mas em contrapartida, ele era perfeito de se sentar, beber uma cerveja, comer Yakissoba e conversar sobre a vida.
Acima de tudo, valeu a pena. Afinal, a Miranda sempre foi minha preferida

4 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns Amyzinha...
gostando de ver..
adorei ler sua postagem, de verdade.

beijosss

Anônimo disse...

uii! obrigaada!
que amor paulinho, foi só eu dizer que gostaria que comentassem mais que você veio e comentou! obrigada!
=)

Roger disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Roger disse...

O cinema é um espaço perfeitamente democrático e seu amigo foi egoísta.Essa combinação dá em morte... Muito bom esse elevador!