quarta-feira, outubro 1

Sinfonia Inacabada.

Ir ao cinema ainda pode ser doloroso para mim. Principalmente sendo o festival do rio. Lembro do nosso primeiro juntos. Escolhemos poucos filmes, nosso amor estava apenas começando. Era exatamente como nas histórias de cinema, um amor de poucos anos que dava seus primeiros passos. No nosso segundo festival, o amor já havia crescido. Amadurecido em todos os sentidos. Segredos haviam sido revelados, roupas haviam sido tiradas, metáforas haviam sido criadas e meu amor por você continuava crescendo, e poderia continuar até que alguém me impedisse.
E esse alguém só poderia ser você. Você e ninguém mais para destruir o que construímos. O que deixamos florescer em momentos tão fáceis de viver. Saíamos de uma sessão, íamos para sua casa. No sexo, você atuava de acordo com o filme. Ele continuava em nossas cabeças, e agíamos como seus personagens. Levantávamos da cama, comíamos algo rápido e corríamos para a próxima sessão. Corríamos pelo Rio de Janeiro em busca do nosso maior vício, nosso maior crime, nosso maior medo, nosso maior receio, nosso maior devaneio, nossa maior realidade, nossa maior mentira.
Não éramos como todos os casais, íamos porque gostávamos de ver a obra, não pelo escurinho. Nossas línguas se encontravam, mas se separavam rapidamente. Ficávamos vendo o rosto das pessoas no término do filme. E dávamos todos os beijos que não conseguimos dar, hipnotizados pelo filme. Mesmo os ruins, principalmente os ruins!
Agora, ando mais solitária. Menos dinheiro, menos filmes, menos companhia. Mas gosto de ir sozinha, até prefiro. Tenho minha própria noção das coisas e não preciso obrigatoriamente compartilhar com ninguém. Mas sim, sinto sua falta.
Às vezes eu fazia a sua barba, às vezes você fazia minha massagem, às vezes eu brincava de lutinha e você sangrava, às vezes você me amava, às vezes eu te odiava, às vezes você amava eu te odiando e às vezes eu amava você me odiando. Às vezes eu te amava, às vezes eu te amo.