domingo, outubro 5

Por que Não Morrer?

Com medo de chegar atrasada ao cinema, louca para ver Gus Van Sant e Walter Salles juntos num mesmo filme discutindo o próprio cinema, o metrô pára na estação do Catete. As portas se abrem, fecham. E se abrem de novo. Gritos são ouvidos, alguns curiosos põem a cabeça para fora. Mais gritos. É ouvida a palavra “fogo” e todos saem correndo dos vagões, inclusive eu. O cheiro e a fumaça ocupam toda a estação, ninguém corre, o fogo é mais ao longe e nem as labaredas são possíveis de ver. Alguns gritam, outros riem, outros, como eu, reclamam do atraso que terão. Tudo estava até calmo. Não havia caos.
Ao me defrontar com a idéia de morrer fiquei muito tranqüila. Obviamente seria difícil morrer em tal situação. Caso o fogo fosse mais alto e se espalhasse, sim. Seria o caos e todos seriam correndo e eu poderia ser facilmente pisoteada, e morta. E ao pensar em tal probabilidade, me preocupei apenas com os filmes não vistos, com os livros não lidos, com as músicas não ouvidas. Mas no fundo, não me preocupei com nada. Pensei que se eu morresse não estaria perdendo nada, afinal estaria morte depois e não sentiria falta de não ter vivido um pouco mais. Claro, isso se não houver mesmo nada após a morte, mas isso é outra polêmica. A questão é que eu estava preparada para morrer. Sem medo de como e por que. Simplesmente preparada. E acho que estava tão bem assim, por sentir que estou vivendo. Literalmente vivendo. Sem medo do passado ou futuro. Vivendo ao pé da letra, e assim, se eu morrer amanhã, já terei vivido.
(cheguei a tempo do filme).

Um comentário:

Anônimo disse...

Legal, muito legal. Bjs.