sábado, outubro 11

O Vento Falante.

Quando ouço música, ela não entra apenas pelos meus ouvidos. Ela passa pela minha roupa adentrando pela minha pele, os cabelinhos do braço ficam todos em pé, os cabelos se mechem não sabendo pra onde ir, o meu cérebro funciona de outra forma, ele maquina a música, a música entra lá e o lá entra na música. Ela causa um frisson, erótico ou não, em todo o meu corpo, dobro os dedos do pé procurando um lugar para me apoiar, nada mais importa. O que sinto, não é sentimento, é a procura de algum, mas no final, nada acho. Não importa, o que quero mesmo é ver a música. Impossível, não se vê música. Música é para ser ouvida, mais nenhum outro dos cinco sentidos. Mas quando ouço música, uso todos eles de uma vez só. A ouço, A vejo, A sinto, A farejo, A degusto. Quando entra pelos meus ouvidos faz a desarrumação arrumando tudo lá dentro. A vejo pelo vento, ele me mostra todas as notas, palavras, desafinações, tudo, tudo que sai dali. A sinto pelo corpo todo, e pelas coisas em volta de mim, reparo a minha volta na reação das pessoas, estando elas ouvindo a música ou não. Sinto-a passando por todo meu corpo, preenchendo todo o espaço, subindo pelas minhas pernas, passando pelas genitais, dando frio na barriga, encolhendo meus seios, dando um sorriso no rosto, A cheiro quando passa pelo meu nariz, música boa sempre cheira bem, cheiro tudo, todos sabem, principalmente a música, ela cheira bem. As novas normalmente têm cheiro de plástico de lojas, as antigas ou de naftalina, ou de livros envelhecidos e amarelos. Chega a meus cabelos e eles dançam juntos, sem pedir permissão, eles puxam minha cabeça de um lado a outro e obrigam meu corpo todo a fazer o mesmo. Acabo cedendo, e danço essa dança que a música proporciona em alguns.
Quando ouço música, as ruins: não ouço, não vejo, não sinto, não farejo, não como. Meus cabelos despencam e preciso encher os pulmões de ar, para simplesmente suportar.

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