quarta-feira, dezembro 31

Ata-me!

Num dia quente sem sol, duas velhinhas iguais vestidas iguais elogiaram a Cherry.
Nada pude fazer, a não ser agradecer.
Estava feliz por duas senhoras de idade gostarem da tinta em minha pele.

Mais tarde, ao encontrar com o homem que me criara vi o quanto nossa relação melhorara. O segredo era a não-convivência. Agora tínhamos histórias para contar, momentos para viajar e principalmente, amor para dar. Um amor que substituía, falava mais alto, que todas aquelas pequenas coisas que sempre nos impediam. Aquele amor do ventre, que na verdade era colo.

Após levar um soco no estômago, saímos do cinema. Ele me levou até o bar onde amigos se encontravam quietos. Fiquei mais quieta ainda, não havia digerido ainda o que vira/ouvira/sentira. E acho que nada posso falar ainda sobre o filme.

O cantor, que faturava 10 reais, contou suas histórias.
Eu pensei nas minhas.
Foi um dia estranhamente repleto de lembranças e sentimentos antigos novos
Quase me debrucei ao chão, sentindo o asfalto em meus lábios
Quente.
Ouvia o vapor passando por ele,
Ouvia o som da noite,
Ouvia o calar da chuva,
que há tanto nos perturbara.
Gostava de pisar nas poças com minhas mãos nas suas.

Um jogo de sombras fez eu sair do meu inferno pessoal
Fui a outro mundo sem me importar muito no que eu estava quase caindo novamente
E quando voltei não chegou a ser desagradável, mas perigoso
A corda bamba me mostrava um lado de lembranças e vícios
E um outro de salvação
E quem disse que há salvação?
Poderia ser apenas ilusão
Prefiro não saber
Nem quero crer
Crer que um dia amanheci curada
Sem medo de ser amada
Mas meu medo é o inverso
É o amar
E me entregar

Pedir socorro sempre foi demais para mim.
Prefiro encontrá-lo em minhas garrafas e cigarros de seda desenhada.
Desenhos de linhas tortas que definem o indefinido,
eu mesma.