sábado, dezembro 27

Water on my lips.

Ouvindo a moça das unhas pretas descascando tocando seu piano.
Ela pára. Dá assistência a alguém na platéia. E volta.
E não pára mais. Continua sua arte, sem saber o que faz com meu corpo.
Ele treme todo.
Minhas vísceras querem sair.
Eu quero gritar.
E choro. Choro lembrando de como a conheci.
Choro lembrando de quando ouvíamos juntos.
Choro lembrando de como eu a cantava para você, só para você.
Choro lembrando de quando a cantamos atravessando o túnel pela madrugada.
Choro quando ela canta em francês.
Choro quando ela canta em russo.
Choro quando ela canta em inglês.
Sorrio quando ela sussurra em meus ouvidos. Lembro que ela também me ajudou.
Lembro que ela estava lá.
Lembro que ela foi um dos meus band aids.
Lembro que ela era uma moça indefesa que se defendia.
Descobri que sou uma moça indefesa que me defendo, ou aprendi a me defender.
Seja em outra cidade, seja embaixo das cobertas com a meia escorregando pelo pé, seja na cadeira de praia esperando o mar cobrir minhas orelhas, seja numa estátua no meio da praça enquanto crianças mastigam chiclete, seja ensinando o que é o amor, seja dizendo que te amo, seja batendo com uma baqueta numa cadeira, seja respirando monóxido de carbono, seja conversando sobre fidelidade, seja lembrando da primeira overdose, seja lembrando de alguma noite no Chelsea Hotel, seja vendendo cabeças numa caminhonete, seja pedindo um outro drink, seja sonhando, seja fazendo uma rima, seja lendo um poema sobre uma sereia com pés, seja em dezembro, seja ao entardecer, seja dentro de um aquário, seja falando sobre um pobre menino rico, seja lembrando do nosso verão, seja cheirando as flores, seja sendo como os filmes, seja com minha honra, seja eu, seja você, seja ela.

6 comentários:

Anônimo disse...

legal a forma como você se colocou, vc escreve muito bem.

.luísa pollo disse...

aff...anônimos.
odeio isso..

Anônimo disse...

???

.luísa pollo disse...

eu quero saber quem é!
não vejo motivos para comentar sem dizer quem é.

Anônimo disse...

sei lá porque essa reação, mas sei que perdi a vontade de comentar aqui. Meu nome é Carol e tchau.

João Medeiros disse...

"seja vendendo cabeças numa caminhonete" - irado